“A aids se juvenizou"

06/06/2014 - 12h51

Aids avança sobre jovens homossexuais, pobres e mulheres, aponta movimento LGBT

TV CÂMARA
Deputado Jean Wyllys (Psol-RJ)
Jean Wyllys condenou o discurso que coloca a aids como castigo para homossexuais.

Representantes do movimento LGBT chamaram atenção para o atual perfil epidemiológico da aids no Brasil durante o 11º Seminário LGBT do Congresso Nacional. Para o deputado Jean Wyllis (Psol-RJ), a infecção avança sobre homens jovens homossexuais, pessoas pobres, mulheres e em regiões do interior do País.

“A aids se juvenizou. E desses jovens infectados pelo HIV, a população de homens jovens gays, voltou a ser o grupo vitima preferencial”, disse Wyllis, que participa das frentes parlamentares em Defesa dos Direitos Humanos, de Enfrentamento às DST/HIV/Aids e pela Cidadania LGBT.

Em audiência na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, reconheceu que o aumento do número de casos de aids entre homens que têm relações sexuais com outros homens tem se mostrado preocupante nos últimos 10 anos. “São as áreas que a gente observa tendência de crescimento”, apontou Chioro.

Jean Wyllis ainda condenou, no entanto, o discurso que coloca a aids como castigo aos homossexuais e ressaltou o aumento de casos entres mulheres. “Temos a feminilização da doença. No início da epidemia eram 30 homens infectados para cada mulher. Hoje essa proporção é de 1 para 1.” O deputado criticou a atuação do Ministério Saúde, diante das evidências desse perfil epidemiológico do País.

Tendência diferente
Representando o Ministério da Saúde, Ivo Brito discordou da visão que aponta como tendências atuais o contágio de jovens, de mulheres e da população do interior do País. Para ele, essa é uma tendência que já marcou os anos 90 e a primeira década do século 21. “Nossos dados mostram outra tendência”, disse Brito.

Com relação ao aumento proporcional da infecção de mulheres, ele disse que, isolando-se homens e mulheres na estatística, verifica-se um aumento maior da epidemia entre homens jovens. Brito acrescentou ainda que a epidemia cresce também entre segmentos com maior escolaridade. “Ou seja, diferente do que ocorria na década de 90.”

O desafio, segundo ele, é pensar em políticas públicas focadas nos grupos de risco sem criar um efeito bumerangue, ou seja, incentivando ainda mais a marginalização e a discriminação desses grupos sociais, como a comunidade LGBT.

Desigualdade
Para o presidente Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Richard Parker, a determinante fundamental da epidemia de aids é a desigualdade. “É onde a desigualdade é mais forte, onde um eixo de desigualdade, do tipo pobreza, cruza com outro, desigualdade de gênero, que você tem um maior impacto da epidemia. A sinergia entre essas forças de desigualdade cria uma maior vulnerabilidade”, sustentou.

Ex-diretor adjunto do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, hoje afirma que, além de terem perdido força, as campanhas muitas vezes não chegam aos públicos-alvo. Para ele, à medida que a questão da vulnerabilidade foi acentuada no discurso, o risco maior de infecção de algumas comunidades foi sendo esquecido. “Hoje se fala em vulnerabilidade como se todos fossem igualmente vulneráveis, homens, mulheres. Mas a epidemia está pegando é gay”, disse Barbosa, que coordena o Centro de Referência e Defesa da Diversidade de São Paulo.

Joanfi

Apesar de considerar importante reconhecer que a aids não tem cara, cor, classe social, ou orientação sexual, Parker concorda que a Aids não é uma epidemia igualitária ou democrática. “Nem todas as pessoas enfrentam os mesmo riscos frente à epidemia de aids. Os grupos populacionais não existem na mesma situação”, disse. Para Parker, a atual fase da fase da epidemia, denominada por ele como “estigma e discriminação” é talvez a mais difícil de ser vencida.

 

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Rachel Librelon

Agência Câmara Notícias
 
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06/06/2014 - 12h59

Deputados defendem políticas de prevenção ao preconceito

O coordenador geral LGBT da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Gustavo Bernardes, comemorou, durante o 1º Seminário LGBT do Congresso Nacional, a publicação da Lei 12.984/14, que determina pena de prisão, de um a quatro anos, e multa para quem discrimina pessoas com HIV. Bernardes aproveitou para cobrar também a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia no País.

“Jovens gays são mais vulneráveis à epidemia de aids. Isso porque ele se expõe mais e são mais suscetíveis à violência”, disse. “Que essa casa não se omita, que criminalize à homofobia”, completou.

A deputada Manoela D’Ávila (PCdoB-RS) destacou a sanção da nova lei que prevê punição para condutas como recusar inscrição em escola; negar emprego ou trabalho; demitir; segregar no ambiente escolar ou de trabalho; divulgar a condição de pessoa com HIV com intuito de ofender; e recusar tratamento de saúde.

No entanto, segundo ela, a lei sancionada trata de punição à discriminação, ou seja, pune quem já é preconceituoso. “Mas e o que estamos fazendo para educar as pessoas e evitar o preconceito?”, questionou a deputada, comentando o recente veto da presidente Dilma Rousseff ao programa do Ministério da Educação, conhecido como 'kit gay', que pretendia o combate à homofobia nas escolas.

Plano Nacional de Educação
Manoela criticou ainda a exclusão do texto do Plano Nacional de Educação (PNE - PL 8035/10) de dispositivo que tratava da questão de gênero.“Vamos levar permanentemente preconceituosos à cadeia ou vamos evitar que as pessoas se tornem preconceituosas”, completou.

O texto aprovado pela Câmara no dia 3 fala apenas em erradicação de todas as formas de discriminação, mas a parlamentar defende que sejam incluído como destaque ao texto aprovado nesta terça-feira trecho que diz: "São diretrizes do PNE a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”.

A deputada Érika Kokay (PT-DF) defendeu a importância da educação para desconstruir as lógicas excludentes. “Não se pode negar a afetividade e a sexualidade humanas. Não existe cidadania dentro do armário”, afirmou. A deputada ainda criticou o projeto em tramitação na Câmara que cria o Estatuto da Família, definindo-a como com a união entre homens e mulheres apenas.

 

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Rachel Librelon

Agência Câmara Notícias

 

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