As mulheres estão fugindo do campo
10/01/2011 14:05
Extraído de Recivil
As mulheres estão fugindo do campo
As moças que nascem na zona rural estão, cada vez mais, saindo dela atrás de estudo e trabalho na cidade.
Há 17 anos, a capela São José, que fica na localidade de Linha Narciso, no interior de Bom Jesus, na região Oeste do Estado, não realiza um casamento. A construção de madeira chega a estar desbotada, com alguns vidros quebrados e com capim crescendo em volta. O local é usado apenas uma vez por semana, para a missa. A situação do pequeno templo reflete uma situação cada vez mais comum: a falta de casamentos no interior. Bom Jesus é uma das 15 cidades que não teve nenhuma união no registro civil durante o ano de 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E não há perspectiva de que a capela São José será utilizada em breve. Das únicas cinco moças solteiras que moram na Linha Narciso, apenas uma pretende casar nos próximos cinco anos.
"Agora ainda não, mas daqui a um tempo, quero casar", diz Vanessa Dariz, 17 anos.
Adelita Malinski, 19 anos, tem namorado, mas não pretende casar antes dos 25 anos: "Até dá tempo de construir uma igreja nova", brinca. A comunidade pode ficar sem nenhuma delas em poucos anos.
"Eu não vejo nenhum futuro aqui", afirma Francieli Bogoni, 15 anos, que quer sair da comunidade para cursar Medicina.
Andressa Bieleski, 16 anos, em breve vai deixar Linha Narciso para morar com a irmã em Bom Jesus, onde vai buscar emprego. Aline Malinski, 17 anos, quer estudar. Sua irmã, continua na casa dos pais, mas trabalha na cidade de Bom Jesus e vai começar o curso de Letras em Xanxerê. O grupo de jovens da comunidade, que tinha cerca de 20 pessoas, já não existe mais. A maioria deixou a cidade.
A situação da Linha Narciso é o retrato dos dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos 10 anos, houve redução de 137.943 pessoas no campo, baixando de 21,25% para apenas 16% da população catarinense. Enquanto o país e o Estado crescem, o campo encolhe. O êxodo rural das mulheres é ainda mais intenso, como revela o documentário Celibato no Campo, lançado no final do ano passado pelos jornalistas Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt. Eles se basearam em um estudo do pesquisador da Epagri Milton Silvestro. De acordo com a pesquisa, em 18 municípios do Oeste catarinense, o número de rapazes entre 15 e 19 anos era 16,7% superior ao de meninas em 2000. De acordo com o pesquisador, está ocorrendo uma masculinização e um envelhecimento no campo.
Fonte: Diário Catarinense
Publicado em 10/01/2011