"Derretimento do dólar"

07/01/11 - 00:00 > FINANÇAS


BC usa compulsório para deter o dólar, mas mercado duvida

Eduardo PuccioniFlávia Milhassi


SÃO PAULO - O Banco Central (BC) anunciou ontem mais uma medida para conter o "derretimento do dólar", como disse Guido Mantega, ministro da Fazenda, da desvalorização da moeda norte-americana frente ao real. Entretanto, os analistas em câmbio não veem esta medida como um sinal para que a moeda estrangeira volte a subir no futuro.

 

Um dos motivos para a desvalorização do dólar, segundo agentes de mercado, seria o forte crescimento do consumo interno no Brasil, que aponta um crescimento econômico. Isso tem atraído investidores estrangeiros, fazendo com que o real se valorize, e consequentemente derrubando a moeda estrangeira.

 

A medida anunciada ontem pelo BC prevê que as instituições financeiras capacitadas a realizar essas operações passem a pagar uma alíquota de 60%, recolhida em espécie e que não será remunerada, sobre o valor da posição vendida de câmbio que for superior a US$ 3 bilhões, ou seu patrimônio de referência. A medida passa a valer a partir de 4 de abril de 2011, ou seja, os bancos terão 90 dias para a adaptação.

 

Hoje, a posição de venda cambial das instituições financeiras está em R$ 16,8 bilhões e, segundo o próprio governo, a meta é encerrar o ano na casa dos R$ 10 bilhões. "Não acredito que o volume estimado em posição de venda dos bancos seja crucial para conter a queda do dólar", afirma Sílvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin.

 

O presidente do BC, Alexandre Tombini, em sua primeira entrevista coletiva, disse ontem que a medida prudencial foi adotada devido à tentativa do BC de redimensionar o tamanho da posição de venda no mercado de câmbio à vista. "O Banco Central entendeu que a posição dos bancos estava superdimensionada em relação ao giro do mercado cambial brasileiro, que movimenta cerca de US$ 2 bilhões por dia, sendo que a compra girava em torno de US$ 16 bilhões e US$ 17 bilhões. Desta forma, essa posição [dos bancos] ficará mais em linha com o giro do mercado", explicou.

 

Mesmo com as medidas tomadas pelo BC, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros, em 2010, quanto o compulsório de 60% para posição de venda cambial, os analistas acreditam que a tendência do dólar é de queda. "Se está entrando dólar no Brasil é porque o estrangeiro está otimista com a nossa economia", afirma Felipe Pellegrini, gerente de Operações do Banco Confidence.

 

Apesar de pontual, as medidas que vêm sendo tomadas pelo BC não estão sendo tão eficazes. São medidas com efeito mais no curto prazo do que no longo. "Antes dessa medida o dólar estava entre R$ 1,66 e 1,67. Hoje [ontem] chegou a R$ 1,69; se essas medidas assustassem o mercado, esse dólar estaria valendo R$ 2,00 pela forma como foi feito o anúncio", acrescenta Reginaldo Galhardo, especialista cambial da Treviso Corretora de Câmbio.

 

Para Samy Dana, professor de economia da EESP-FGV, a preocupação do governo em manter a inflação na meta pode influenciar no dólar. "O aumento do compulsório sobre depósito incentiva os bancos a ter uma posição maior no dólar. A nova medida já incita um pequeno aumento da moeda estrangeira. Os juros devem aumentar, de 1 a 1,25% até fevereiro. De acordo com os relatórios do Copom, esse aumento de juros é para conter a inflação, e isso acaba por incentivar o dólar", afirma.

 

Todos os analistas consultados pela nossa reportagem acreditam que o BC deverá anunciar, ao decorrer do ano, mais medidas para conter o dólar. Entre todas as medidas que possam ocorrer, as mais lembradas são: um novo aumento do IOF, o aumento da taxa de juros para conter o consumo e a volta da quarentena - período que o governo estipula no qual o estrangeiro pode ingressar com recursos no País.

 

Como reflexo das novas medidas do BC, os grandes bancos brasileiros devem reduzir a internalização de recursos do exterior, avalia o Barclays Capital. Muitas instituições financeiras captavam recursos lá fora para trazer ao Brasil e vender dólares ao BC. Após as novas regras, os bancos terão pouco incentivo para fazer esse tipo de operação (chamada de carry trade no mercado financeiro), avalia o Barclays.

 

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, a medida é positiva, mas insuficiente para a indústria recuperar a competitividade perdida com a desvalorização do dólar. Ele disse ainda que "a instituição de um depósito compulsório mostra que o Banco Central está atento à questão do câmbio". "Sem a medida anunciada hoje [ontem], as operações de arbitragem pressionariam a moeda brasileira com o aumento do diferencial entre os juros no Brasil e no exterior."


Fonte: DCI

 

 

 

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