Escritório boutique ou de massa? Como me classifico?

Escritório boutique ou de massa? Como me classifico?

Publicado por Heberson Moraes - 24 minutos atrás

Em tempos de acesso a informações tão rápido quanto os acontecimentos, muito se replica sem ao menos saber do que se trata. Pedir que as pessoas ao menos leiam o que estão compartilhando é quase um desafio olímpico. Se o texto tiver mais que 160 caracteres então, é praticamente um apocalipse.

No meio jurídico, vemos diversos profissionais propagarem a frase da moda: “tenho um escritório boutique”. Seja através de um artigo, de um título bem destacado no site do escritório ou mesmo durante uma entrevista.

Mas será que seu escritório preenche os requisitos para receber este conceito? Podemos ir além e perguntar: será que você conhece o conceito ou só está replicando algo por achar pomposo ou porque está na moda?

Tamanha distorção e desconhecimento sobre o tema ficam claros quando o profissional atribui a seu próprio escritório o formato de “boutique jurídica”, sendo que na verdade ele possui um escritório de massa.

Claro que é possível você atuar observando isoladamente alguns requisitos inerentes a cada conceito. Porém quando isso ocorre é possível determinar que, definitivamente seu escritório não é uma “boutique jurídica”, pois você pode atender no formato boutique ou de massa, mas nunca em uma categoria mista, ou seja, uma combinação dos dois.

Cada prática tem suas particularidades, vejamos:

Escritório Boutique
O conceito de escritório boutique não é novo. Existe há bastante tempo na Europa, mas foi nos EUA onde ganhou maior visibilidade e reconhecimento durante o período da crise financeira de 2008, que, diante do atendimento massificado dos grandes escritórios de advocacia, surgiu à necessidade de um atendimento singularizado, altamente especializado, personalizado, destacando-se pela qualidade e elegância do serviço prestado, onde cada caso recebe a atenção cuidadosa de um dos sócios.

O escritório com proposta de prestação de serviço especializado e personalizado no contexto de “boutique jurídica” deve ter a preocupação de apresentar para cada cliente uma solução especial, num ambiente que valorize a sua individualidade.

A boutique não precisa ser necessariamente um escritório pequeno. Sua principal característica é o alto grau de especialização, conhecimento técnico e o foco no relacionamento com o cliente.

É preciso ter em mente, que para ser considerado um escritório boutique, não basta ter uma estrutura enxuta. Os iniciantes são enxutos, mas não possuem o grau de especialização necessária para o formato.

Não basta ser especializado em uma única área. Isso não é um diferencial, hoje o que mais existe no mercado é profissional especializado.

Não basta ter uma carteira pequena e selecionada de clientes, isso inclusive pode te quebrar.

Não basta ter um atendimento personalizado, isso não é um diferencial, hoje é obrigação de qualquer escritório.

Não basta ter um ambiente de trabalho com qualidade, tampouco profissionais especializados, isso é obrigação da banca.

Então o que determina se o seu escritório é boutique ou não?

A resposta para esta pergunta é bem simples: você só é boutique quando o mercado reconhece que você tem essa qualidade intrínseca.

Vamos à explicação.

Por que algumas lojas conseguem vender ternos que chegam a custar alguns mil reais, enquanto na loja ao lado estão à venda ternos que custam apenas quatrocentos reais? Qual dos dois ternos será que tem uma qualidade melhor no corte, um tecido mais fino, uma costura sem fiapos de linha? E qual dos dois ternos possui o principal item que eleva o valor de venda de qualquer produto, a marca desejada?

Chegamos então ao ponto que determina se o seu escritório é ou não uma “boutique jurídica”. Pois ser boutique jurídica não está nas mãos do escritório, não está nas mãos dos sócios, não se caracteriza só pelo endereço valorizado, pela mobília assinada por designer famoso, mas sim por quem o vê como uma marca destacada, uma referência no mercado.

Uma “boutique jurídica” não se determina por uma autodeclaração. O mercado precisa reconhecê-la como tal. Seu profissional deve ser referência em sua área de atuação. Motivo pelo qual seus honorários são tão diferenciados. Esse reconhecimento pode ser de um profissional ou de um grupo de profissionais que compõe o escritório e desfrutam de tal prestígio.

Não se deve confundir reconhecimento profissional, seja ele nacional ou local, com fama. Temos vários exemplos de advogados que são famosos, pois tem uma exposição midiática muito grande, mas que não são referência para seus colegas de profissão, nem mesmo para o mercado.

Alguns autores que tratam do tema “boutique jurídica” apresentam algumas perguntas que se deve fazer para verificar se seu nome já é, em algum nível, reconhecido.

Vejam:

Quando comentamos, mesmo em uma roda informal de pessoas, o nome de seu escritório ou dos sócios é facilmente reconhecido?
Quando se coloca o nome dos sócios, o que aparece na pesquisa orgânica do Google?
O sócio é capacitador de informação através de artigos e palestras?
O sócio tem currículo interessante, preferencialmente com pós-graduação?
O sócio é tão relevante que algum outro escritório já quis comprar sua legal opinion ou parecer?
O sócio já recebeu algum prêmio, seja mercadológico, seja do cliente?
Ressalte-se que estes pontos não, necessariamente, determinam a criação do conceito tratado aqui, mas apenas ajudam a verificar o valor do nome do escritório ou do sócio.

Advocacia de massa
Ao contrário da “boutique jurídica”, que é altamente especializada, a advocacia de massa trata de casos menos complexos, corriqueiros e semelhantes entre si, sendo bastante comum nas áreas Trabalhista e do Consumidor.

É sem dúvida a porta de entrada para os novos advogados. Devido ao grande volume de processos, não há um atendimento mais personalizado e o trabalho é, muitas vezes, padronizado, sendo necessário pouco tempo na dedicação para cada processo. Em virtude disso os valores dos honorários são bem menores.

Como falamos no início, você pode atuar observando os pontos positivos de cada formato, mesclando assim sua atuação, sem restringir demais suas oportunidades entre estes dois nichos.

O importante é você mesmo saber qual é seu objetivo, seu posicionamento no mercado, e claro, como é visto por seus clientes, de forma que todos entendam como funciona e se estrutura seu escritório.

Heberson Moraes
Advogado

Extraído de JusBrasil

 

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