Herança musical: Como proteger direitos autorais antes da morte?

Precaução

Herança musical: Como proteger direitos autorais antes da morte?

Dueto póstumo envolvendo Marília Mendonça e Cristiano Araújo ilustra como instrumentos jurídicos podem preservar legado de artistas.

Da Redação
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Atualizado às 15:07

A preservação do legado de músicos falecidos envolve tanto os direitos autorais quanto os direitos sucessórios. Embora a legislação vigente ofereça mecanismos para proteger a "herança musical" deixada pelos artistas, esses dispositivos nem sempre são suficientes para evitar disputas, o que leva alguns casos a serem analisados pelo Judiciário. Entenda como, ainda em vida, músicos podem planejar e antecipar soluções para minimizar conflitos futuros.

Em setembro de 2024, o STJ condenou a marca de roupas Reserva a indenizar o espólio do cantor Tim Maia pela utilização não autorizada de letras de suas músicas em camisetas. Doze anos antes, o TJ/RJ decidiu contra as sobrinhas de Noel Rosa, mantendo válidos contratos de cessão de direitos autorais firmados pelo próprio artista em vida.

As decisões são divergentes, mas ressaltam a importância de proteger os direitos autorais de músicos já falecidos, garantindo que suas obras sejam respeitadas e valorizadas.

Agora, um novo lançamento suscita discussão parecida.

No último dia 20, a gravadora Som Livre anunciou o lançamento de uma música inédita: um dueto entre Marília Mendonça e Cristiano Araújo, ambos falecidos tragicamente em acidentes.

A canção, intitulada "Quem é a Culpa?", foi originalmente gravada por Marília e lançada em 2017, mas, na realidade, foi "dada" pela cantora ao amigo Cristiano. Ele também chegou a gravar a faixa em estúdio antes de seu falecimento em 2015.

Planejamento

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XXVII e XXVIII, inclui os direitos autorais no rol de direitos fundamentais. Contudo, é a lei de direitos autorais (lei 9.610/98) que detalha a aplicação desses direitos, especialmente no que diz respeito à transmissão de direitos patrimoniais e à proteção dos direitos morais.

Entre os direitos morais protegidos estão o direito de reivindicar a autoria e o direito de assegurar a integridade da obra, impedindo alterações que possam prejudicar a reputação ou honra do autor.

A advogada especialista em propriedade intelectual, Luciana Minada, sócia do escritório Kasznar Leonardos | Propriedade Intelectual, destaca a importância de planejamento para evitar conflitos após o falecimento de artistas.

"O planejamento sucessório adequado é indicado para garantir que a gestão e salvaguarda dos direitos autorais após o falecimento ocorra de maneira apropriada", pontua.

Lançamento de dueto póstumo entre Marília Mendonça e Cristiano Araújo suscita debate a respeito da proteção do legado musical.(Imagem: Reprodução/Instagram)
Dupla natureza

Os direitos autorais, conforme explica a especialista, possuem duas naturezas principais: direitos morais e direitos patrimoniais.

Enquanto os direitos morais, como o direito à autoria e à integridade da obra, são intransmissíveis, os direitos patrimoniais podem ser cedidos ou licenciados. Segundo a lei 9.610/98, os direitos patrimoniais são transmitidos aos herdeiros e perduram por 70 anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao falecimento do autor.

Esse prazo reflete o princípio da temporalidade, consoante a  Convenção de Berna , da qual o Brasil é signatário. Após esse período, as obras entram em domínio público e deixam de estar sob controle dos sucessores.

Luciana Minada alerta, ainda, sobre os cuidados necessários na celebração de contratos envolvendo direitos autorais:

"Negócios jurídicos sobre direitos autorais devem ser interpretados restritivamente, conforme prevê o art. 4º da lei de direitos autorais". Assim, qualquer transação envolvendo obras de um autor falecido requer anuência de todos os herdeiros, garantindo a validade jurídica e o respeito à vontade do autor.

A proteção do legado musical passa, portanto, por medidas preventivas, como a formalização de um testamento, e pela observância rigorosa das normas legais que regem os direitos autorais. Dessa forma, é possível não apenas perpetuar a obra de grandes artistas, mas também preservar sua integridade e a memória cultural que representam.

Este cenário reforça a necessidade de uma gestão consciente e bem estruturada da herança musical, garantindo que a arte continue sendo apreciada por gerações futuras sem comprometer os valores e os direitos de seus criadores.

Fonte: Migalhas

                                                                                                                            

Notícias

Direito de Família

  Leis esparsas e jurisprudência geram novas tendências Por Caetano Lagrasta   O Direito de Família é atividade jurídica em constante evolução, ligada aos Costumes e que merece tratamento diferenciado por parte de seus lidadores. Baseado no Sentimento, no Afeto e no Amor, merece soluções...

É válida escuta autorizada para uma operação e utilizada também em outra

24/02/2011 - 10h16 DECISÃO É válida escuta autorizada para uma operação e utilizada também em outra Interceptações telefônicas autorizadas em diferentes operações da Polícia Federal não podem ser consideradas ilegais. Essa foi a decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao...

Estatuto da família

  Deveres do casamento são convertidos em recomendações Por Regina Beatriz Tavares da Silva   Foi aprovado em 15 de dezembro de 2010, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, um projeto de lei intitulado Estatuto das Famílias (PL 674/2007 e...

Casal gay ganha guarda provisória de criança

Extraído de JusBrasil Casal gay ganha guarda de menino no RGS Extraído de: Associação do Ministério Público de Minas Gerais - 1 hora atrás Uma ação do Ministério Público de Pelotas, que propõe a adoção de um menino de quatro anos por um casal gay, foi acolhida ontem pela juíza substituta da Vara...

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato A primeira atualização da Lei do Inquilinato (8.245/91) acabou de completar um ano com grande saldo positivo, evidenciado principalmente pela notável queda nas ações judiciais por falta de pagamento do aluguel. (Outro efeito esperado era a redução...

Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente

24/02/2011 - 08h08 DECISÃO Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente É indevida a indenização decorrente do seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, o DPVAT, se o acidente ocorreu sem o envolvimento direto do veículo. A decisão é da...