Limites do direito à privacidade e da liberdade de informação

 

25/02/2011 17:43

Projetos liberam publicação de biografias não autorizadas

Deputados retomam proposta arquivada na legislatura passada por falta de acordo, reabrindo a discussão sobre os limites do direito à privacidade e da liberdade de informação.

Dois deputados tentam novamente liberar a publicação de biografias não autorizadas. Eles se baseiam em proposta do ex-deputado Antonio Palocci, hoje ministro da Casa Civil, que foi arquivada no mês passado, ao término da legislatura. A proposta chegou a receber parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, mas não foi votada por falta de acordo.


Os projetos de Lei 393/11, do deputado Newton Lima (PT-SP), e 395/11, da deputada Manuela D'ávila (PCdoB-RS), que são idênticos, alteram o artigo 20 do Código Civil (Lei 10.406/02) e permitem a divulgação de informações biográficas de pessoas públicas sem nenhum tipo de autorização prévia. Atualmente, o Código Civil prevê autorização para publicação.

Veja infográfico sobre os conflitos na legislação


As duas propostas reabrem a discussão na Câmara sobre os limites entre a liberdade de expressão e o direito do cidadão de manter em sigilo fatos e acontecimentos ligados à sua imagem, à sua intimidade ou à sua vida privada.

O deputado Newton Lima argumenta que o objetivo da sua proposta é "afastar os resquícios legais da censura ainda presentes no artigo 20 do Código Civil e evitar o cerceamento do direito de informação, tão caro aos brasileiros, após anos de ditadura".

Arquivo - Gilberto Nascimento

Manuela: não se questiona o direito do cidadão de pedir retratação ou indenização.

Segundo Manuela D'ávila, os preceitos constitucionais relacionados à expressão do pensamento vêm sendo mal interpretados, o que acaba resultando frequentemente em censura prévia. "Em nenhum momento se questiona o direito do cidadão de pedir retratação pela divulgação de acontecimentos ou fatos falsos ou ofensivos. O que não se pode aceitar é que, com base no Código Civil, determinada informação seja considerada imprópria antes mesmo de se tornar pública", defende a deputada.


Ela diz ainda que o fato de a proposta focar apenas em pessoas públicas pode ser explicado pela ligação, quase sempre direta, entre a vida dessas pessoas e a própria história do País. "Temos que deixar claro que não estamos pretendendo violar a privacidade de ninguém, e sim evitar que informações importantes e de interesse público possam ser objeto de algum tipo de restrição." A deputada afirma também que caberia à Justiça, quando solicitada, definir a dimensão pública de uma pessoa com base no bom senso.

Diógenes Santos

Caiado moveu processo por declarações citadas em livro, que nega ter feito.

Citação indevida
Autor de um processo por sentir-se citado indevidamente em um livro, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) não concorda com publicação de dados da vida privada de qualquer pessoa sem prévia autorização. Ele foi citado em 2005 no livro Na Toca dos Leões, que conta a história da agência W/Brasil, e conquistou na Justiça o direito de receber indenização de R$ 2,5 milhões - valor dividido entre o autor, jornalista Fernando Morais, a editora Planeta e um dos sócios da agência, Gabriel Zellmeister. O livro continha declarações que Caiado nega ter feito. Na ocasião, o deputado não pediu a proibição do livro, apenas a correção dos fatos. "Sou contra a ideia de expor uma pessoa, pública ou não, ao humor de alguém que pretende escrever sobre aspectos de sua vida pessoal", diz ele.

Íntegra da proposta:

Reportagem - Murilo Souza
Edição - Wilson Silveira
Agência Câmara de Notícias

Notícias

Inclusão do cônjuge do devedor na execução: até onde vai a conta do casamento?

Opinião Inclusão do cônjuge do devedor na execução: até onde vai a conta do casamento? Lina Irano Friestino 19 de dezembro de 2025, 9h25 A decisão do STJ no REsp 2.195.589/GO reforça algo que, no fundo, já estava escrito na lógica do regime de bens: casar sob comunhão parcial significa dividir não...

Contrato e pacto antenupcial pela perspectiva de gênero

Contrato e pacto antenupcial pela perspectiva de gênero Autor: Rodrigo da Cunha Pereira | Data de publicação: 16/12/2025 O Direito das Famílias e Sucessões está cada vez mais contratualizado. Isto é resultado da evolução e valorização da autonomia privada, que por sua vez, vem em consequência do...

Autocuratela o novo instrumento que redefine autonomia no futuro

Autocuratela o novo instrumento que redefine autonomia no futuro Marcia Pons e Luiz Gustavo Tosta Autocuratela, agora regulamentada pelo CNJ, permite que qualquer pessoa escolha seu curador antecipadamente, reforçando autonomia e prevenindo conflitos familiares. terça-feira, 9 de dezembro de...

Valor Investe: Seu imóvel vai ganhar um 'CPF': veja o que muda a partir de 2026

Valor Investe: Seu imóvel vai ganhar um 'CPF': veja o que muda a partir de 2026 Por Yasmim Tavares, Valor Investe — Rio 02/12/2025 06h30  Atualizado há 4 dias A implementação do CIB acontecerá de forma escalonada: capitais e grandes municípios terão até agosto de 2026 para atualizar seus...