Mineiros estão se unindo, mas sem registrar relação em cartório

Mineiros estão se unindo, mas sem registrar relação em cartório


Relações consensuais (não registradas em cartório) aumentaram em Minas em 10 anos, apesar de ainda representarem o menor índice entre todos os estados, segundo o IBGE

Os mineiros estão assumindo mais as relações não oficializadas em cartório, mas o número dessas uniões ainda está abaixo da média nacional. Essa é a principal peculiaridade da população do estado que destoa do perfil do restante do país, de acordo com novos dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem. Os demais números acompanham a tendência do país, como o total de mineiros acima de 25 anos com ensino médio, que passou de 20,6% em 2000 para 32,6% em 2010. Já a taxa de desemprego no estado caiu de 14,2% para 6,8%. Enquanto isso, o rendimento médio mensal dobrou (de R$ 559 para R$ 1.212). Outro dado importante é o sufoco para chegar ao trabalho. A Região Metropolitana de Belo Horizonte é a terceira com maior percentual (52,3%) de pessoas que gastam mais de meia hora para se deslocar de casa para o serviço.

Mais que a cara do mineiro, essas características acima mostram o estado como um pequeno retrato do Brasil. “Minas Gerais, normalmente, acompanha a média nacional e é considerada uma miniatura do país”, afirma a demógrafa Luciene Longo, analista do IBGE. Mas o Censo 2010 também revelou características curiosas ao estado e que refletem a cultura de quem vive entre as montanhas. Um dos aspectos mais evidentes se refere ao casamento. Simplesmente juntar as escovas de dente e casar “sem papel passado” é uma realidade ainda tímida em Minas. As uniões consensuais no estado, conhecido por sua tradicional família, representam apenas 25,9% do total de casamentos, o menor percentual do Brasil, onde a média é de 36,4% de amigados. Pouco a pouco, no entanto, o estado tem conseguido se desvencilhar desse perfil.

Em 10 anos, o aumento das relações consensuais em Minas foi de 37,9%, acima da média nacional de 27,1%. Com isso, houve um salto de 18,8% para pouco mais de um quarto das uniões. O casal Jonathas Moreira de Carvalho, psicólogo, de 30 anos, e Lucy Rodrigues de Oliveira, estudante, de 20, ajuda a romper a tradição. Namorados durante seis anos e vivendo juntos há um ano no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, Jonathas e Lucy preferem manter a relação sem assinatura de papéis. “O casamento é uma tradição, um valor cultural”, acredita o psicólogo. Lucy lembra que o que vale mesmo é o amor, independentemente de ter passado pelo cartório ou pela igreja.

Na tarde de ontem, eles tinham horário marcado num estúdio fotográfico da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O objetivo: documentar a primeira gravidez da jovem – Bárbara vai chegar em 4 de julho. Era nítida a felicidade dos dois ao caminhar de mãos dadas pela Rua Pernambuco, trocar beijinhos e acariciar a barriga sob a blusa vermelha. Por causa dessas uniões consensuais, Minas apresentou queda de 5,5% em relação às pessoas casadas oficialmente em 2000.

De acordo com o Censo 2010, assim como Jonathas e Lucy, 48,5% da população mineira acima de 10 anos vive os encantos e desafios da vida a dois, pouco abaixo da média nacional, de 50,1%. Quando o assunto é estado civil, os números mudam. Em Minas, são 38,5% de casados, 50,7% de solteiros, 5,5% de viúvos, 2% de separados e 3,3% de divorciados, o dobro em relação à última década. O percentual de divórcios no estado supera o brasileiro (3,1%), que registrou aumento de 83,4% de rompimentos legais. A explicação para o crescimento dos divórcios tem amparo na legislação. “A Emenda Constitucional 66/2010 acabou com a separação judicial e permitiu que os casais se divorciassem direto. Antes, esse processo era cheio de amarras”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o advogado Rodrigo da Cunha Pereira. Ele também comenta o aumento das uniões consensuais. “Mesmo em Minas, conhecido por ser conservador, e onde a religião é muito forte, os casais têm se sentido mais livres para escolher sua forma de constituir família, sem o vínculo autorizado pelo estado”, diz.

Filhos

Independentemente de a relação ser formal ou consensual, as famílias têm sido bastante semelhantes quando o assunto é gravidez, cada vez menos desejada pelos casais. Casada há três anos, a promotora de vendas Carla Antônia Rocha, de 28, moradora do Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul de BH, não pensa em mais filhos. Ela já tem a pequena Mirella, de um ano, e quer parar por aí. “A condição financeira não permite, tem alimentação, escola e outros gastos”, revela a jovem mamãe, casada com um motoboy. “Nós dois trabalhamos e somamos em casa. Hoje, uma mochila pode custar até R$ 200, já pensou se fossem quatro filhos?”, pergunta, certa de que a vida ficou complicada e os apelos do consumo são grandes.

Os dados refletem a opinião de Carla e mostram redução de 20,1% da taxa de fecundidade nos últimos 10 anos, passando de 2,38 filhos em 2000 para 1,90 em 2010. Entre as mineiras, o índice caiu de 2,22 filhos em 2000 para 1,77 por mulher, 10 anos depois. Dados relativos à gravidez revelam também mais mulheres se tornando mães depois dos 30 anos. Além da taxa de fecundidade, outro fator reforça a tendência de famílias com menos integrantes. Na última década, houve queda de mais de 30%, no país, e 33,9%, em Minas, do número de mulheres recenseadas que tiveram filhos no ano anterior ao censo. No país, 3,2% das entrevistadas declararam ter tido filho, enquanto no estado, apenas 2,8% afirmaram ter sido mães, acima apenas do Acre, Ceará, Sergipe e Santa Catarina.

Daqui para o futuro

A população vai diminuir

A taxa de fecundidade brasileira apresentou queda de 20,1% na última década, passando de 2,38 filhos por mulher em 2000 para 1,90, conforme mostraram dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Minas Gerais, a queda foi ainda maior, de 2,22 filhos para 1,77. De acordo com a demógrafa Luciene Longo, analista do IBGE, o índice está abaixo do nível de reposição (2,1 filhos), que garante a substituição das gerações. “Isso indica que se mantido esse ritmo, daqui a 50 anos vamos ver a população diminuir”, afirma.

 

Fonte: Jornal Estado de Minas

Publicado em 02/05/2012

Extraído de Recivil 

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