Minimizando a ausência de políticas públicas
24/11/2010 09:30
23/11/2010 - 13h17
Autismo: Voluntariado faz a diferença
Em setembro, um grupo de pais de crianças autistas, que só se conhece pela internet, lançou a revista Autismo, depois de constatar a necessidade de informação sobre o assunto e a falta de publicação especializada. "Foram seis meses de pesquisa pela internet e contato com entidades, inclusive no exterior", diz o jornalista Paiva Júnior, responsável pela edição. O resultado, segundo ele, foi a primeira publicação exclusiva sobre autismo na América Latina e a primeira em lingua portuguesa no mundo.
Um dos pais, Waldemar Casagrande, tem uma gráfica em Santa Catarina e conseguiu que um dos seus fornecedores doasse o papel. O publicitário e artista plástico Martim Fanucchi foi responsável pelo projeto da revista e Paiva pelo conteúdo. Com uma tiragem de 5 mil exemplares, rapidamente esgotada, a revista está disponível pela internet (www.revistaautismo.com.br). Até o final do ano, segundo Paiva, deve estar disponível a sua versão para o inglês e no final de janeiro para o espanhol. Atualmente semestral, o desafio, acrescenta, é encontrar patrocínio para torná-la trimestral.
Esse voluntariado tem ajudado a minimizar a ausência de políticas públicas e o sofrimento das famílias. Todas as entidades que compareceram à audiência na CAS, por exemplo, reúnem pais e parentes de autistas. A Associação Brasileira de Autismo (Abra) é presidida por Marisa Furia Silva, mãe de autista de 32 anos, que revelou a preocupação com a velhice do seu filho e dos demais adultos autistas. "O básico é ter seguridade social e educação", defendeu na audiência.
A pedagoga Juceli Vianna Antunes, avó de criança autista, resolveu fundar a Adefa, depois que descobriu a precariedade do atendimento no Brasil. Decidiu partilhar seus conhecimentos e suas pesquisas sobre o assunto. A entidade sobrevive do voluntariado e mesmo com parcos recursos já atendeu cem crianças autistas.
Mais contundente, a presidente da Associação de Amigos do Autista da Bahia (AMA-BA), Rita Valéria Brasil, que há 17 anos trabalha em instituições para autistas, reclamou da falta de prioridade aos portadores do TEA. Ela mostrou, na sua apresentação, como a intervenção adequada pode melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes com TEA, com exemplos animadores de autistas carentes assistidos pela entidade.
Na audiência, o professor Marcos Tomanik Mercadante, da Escola Paulista de Medicina, dimensionou a falta de especialistas no assunto. Ligado ao Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Brasileira de Psiquiatria, ele informou que apenas 300 profissionais filiados à entidade possuem especialização em Psiquiatria da Infância e há apenas outros 250 a 300 neuropediatras.
Cíntia Sasse / Jornal do Senado