Para economistas austeridade não é resposta à crise
04/06/2012 12:40
01/06/2012 - 20h25 Mercosul - Atualizado em 01/06/2012 - 20h25
Para economistas, austeridade não é resposta à crise
Paulo Cezar Barreto
Em reunião da Representação Brasileira no Parlasul, nesta sexta-feira (1º), os professores de economia Décio Garcia Munhoz e João Sicsú discutiram os efeitos da crise mundial sobre a economia sul-americana e brasileira e cobraram medidas mais diretas do governo federal para estímulo da atividade econômica.
Munhoz e Sicsú opinaram que a crise europeia de 2011-2012 encontra o Brasil num cenário diferente do verificado em 2008, o que obriga o governo a rever suas medidas de combate à recessão, mas salientaram que pacotes de austeridade como os adotados na Europa “não levaram a lugar algum” e que os investimentos estatais são essenciais para garantir a recuperação econômica. Além de responderem às perguntas dos senadores Roberto Requião (PMDB-PR), presidente da comissão, e Ana Amélia (PP-RS), os debatedores também receberam perguntas e opiniões dos telespectadores e internautas.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Décio Garcia Munhoz lembrou que a ideia da união latino-americana sofreu por muito tempo com a “ilusão” de seguir o exemplo da Europa, mas o Mercosul segue enfrentando a dificuldade de dar capacidade competitiva aos parceiros menores do grupo.
Décio Garcia Munhoz assinalou que entre 2003 e 2004 a China transformou a economia mundial, elevando sua demanda e trazendo à América do Sul uma espécie de “período áureo” – no entanto, os países da região seguiram imaginando que a boa fase era devida a políticas econômicas internas. Nesse período, o Brasil cresceu menos que os vizinhos, e a demanda da China não é mais a mesma.
- O Brasil chega numa situação de volta aos anos 90: câmbio valorizado e renda das famílias arrochada. Esse é o nosso quadro – afirmou.
Décio Garcia Munhoz defendeu a discussão de instrumentos de sustentação financeira para os países do Mercosul de modo a fortalecer a união dos países, e criticou políticas recessivas contra a crise. Uma grande preocupação do professor está na dificuldade de equilibrar estímulo ao consumo e taxa de inadimplência baixa.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Sicsú definiu como preocupante a situação do Brasil diante da nova situação internacional. Conforme lembrou, na crise de 2008-2009 os empresários “puxaram o freio”, mas o governo federal adotou medidas capazes de atenuar a recessão (impulso no PAC, lançamento do Minha Casa Minha Vida). A crise começada em 2011, no entanto, teria encontrado o crescimento do Brasil em baixa – um mau desempenho que o professor atribuiu a motivos internos, não à crise internacional.
Sicsú opinou que a redução dos juros não será suficiente para reerguer a economia brasileira, e a ascensão social das famílias será mais lenta, o que obrigará o governo a ser mais incisivo.
- Essa situação de desânimo vai impor ao governo o desafio de elaboração de políticas que terão efeitos mais diretos. O governo terá que fazer estímulos diretos na economia. Não podemos criticar a política europeia e fazer algo semelhante ao que se faz na Europa.
Entre as medidas propostas por Sicsú, o governo deve reduzir o comprometimento da receita líquida dos estados com pagamento de dívidas à União. Décio Garcia Munhoz concordou, afirmando que é absurdo manter “uma dívida espúria em condições draconianas”. Ele criticou os governantes brasileiros que usam as dívidas como arma para submeter politicamente os entes federativos.
Agência Senado