Pesquisa usa substância semelhante à ayhuasca para combater dependência química

Pesquisa usa substância semelhante à ayhuasca para combater dependência química

14/10/2014 06h23São Paulo
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil Edição: Graça Adjuto

Estudo feito pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que a ibogaína é pelo menos cinco vezes mais eficiente para interromper a dependência química do que tratamentos convencionais. A substância é extraída da raiz da iboga, planta encontrada em alguns países africanos. “Ela é usada desde a pré-história em rituais por tribos no Gabão, na África, que professam uma religião que se chama bwiti. Eles usam essa planta em rituais de entrada na vida adulta”, explicou o médico Bruno Chaves, um dos responsáveis pela pesquisa, em entrevista à Agência Brasil.

O estudo foi feito com 75 pacientes, entre usuários de crack, cocaína e álcool, entre janeiro de 2005 e março de 2013. Dos 67 pacientes homens, 55% ficaram livres do vício por, pelo menos, um ano. Entre as oito mulheres, a taxa foi 100%. Os tratamentos convencionais interrompem o vício em um índice que varia de 5% a 10% dos casos. Os resultados do trabalho inédito foram publicados no The Journal of Psychopharmacology, da Inglaterra, uma importante publicação na área de psicofarmacologia.

Os participantes da pesquisa eram pessoas com histórico de dificuldades em deixar o vício. “A gente tem pacientes nesse grupo que, com 30 anos de idade, registram mais de 30 internações”, exemplificou Chaves. Eles passaram por uma avaliação psiquiátrica e uma preparação psicológica antes de serem submetidos ao tratamento. “É importante que o paciente esteja motivado para aproveitar o efeito da ibogaína”, acrescentou o médico sobre o processo de seleção.

A ibogaína tem efeitos semelhantes aos da ayahuasca, bebida feita de plantas amazônicas usada em cerimônias religiosas. “A diferença é que a ibogaína é muito mais potente do que a ayahuasca. Para você ter uma ideia, o efeito da ayahuasca dura quatro horas. A da ibogaína dura de 24 a 48 horas”, explicou Chaves sobre a substância, que causa a sensação de expansão de consciência. "O paciente começa a perceber melhor o que ele representa na vida, qual é a função dele no planeta, quais são as coisas que está fazendo certo, o que está fazendo errado”, detalhou o médico que acompanhou os pacientes durante a administração da medicação.

Na maioria dos casos, com apenas uma dose, o medicamento corta a vontade de usar drogas e impede crises de abstinência. “Ela equilibra a quantidade de neurotransmissores que há no cérebro e isso faz com que o paciente tenha uma sensação de bem-estar definitiva, não é só durante o efeito da medicação. A impressão que dá é que a ibogaína interrompe o processo que leva à dependência química”, explica Chaves.

Ao acabar com o interesse pela droga, o paciente tem, segundo o médico, mais facilidade de seguir com outras etapas do tratamento, como o acompanhamento psicológico, e retomar as atividades cotidianas. Ele alerta, no entanto, para que não seja feito o uso independente da substância, que pode ter efeitos colaterais, como tontura, enjoo e confusão mental, durante o período de efeito.

O objetivo agora, de acordo com Chaves, é conseguir financiamento para um estudo mais amplo, com um número maior de pacientes e testes que possam mostrar os efeitos da ibogaína no cérebro.

Agência Brasil

Notícias

Herança digital e planejamento sucessório

Herança digital e planejamento sucessório Luiz Gustavo de Oliveira Tosta No universo digital, legado também se planeja. Influenciadores e profissionais de mídia precisam proteger sua herança online com estratégia jurídica e visão sucessória. domingo, 6 de abril de 2025 Atualizado em 4 de abril de...

Se for de alto padrão, bem de família pode ser executado

Dignidade garantida Se for de alto padrão, bem de família pode ser executado 1 de abril de 2025, 12h57 Para o juiz, o dono da loja tem condições financeiras suficientes para não ficar desamparado. Ele determinou, então, a penhora do imóvel, e destinou 50% do valor à autora da ação. Confira em...

Pacto antenupcial: Liberdade, proteção e maturidade a dois

Pacto antenupcial: Liberdade, proteção e maturidade a dois Marcia Pons Mais do que divisão de bens, o pacto antenupcial tornou-se uma escolha consciente de casais modernos que valorizam autonomia, planejamento e vínculos duradouros. domingo, 30 de março de 2025   Atualizado em 28...

Vontade de um dos cônjuges é suficiente para a concessão de divórcio

LAÇOS ROMPIDOS Vontade de um dos cônjuges é suficiente para a concessão de divórcio Rafa Santos 28 de março de 2025, 8h23 Ao analisar o caso, o desembargador acolheu os argumentos da autora. “Antes da Emenda Constitucional n. 66/2010, a Constituição exigia separação judicial ou de fato antes da...