Programa de Banda Larga só beneficia quem pode pagar R$ 35, apontam pesquisadores

05/11/2012 16:46

Programa de Banda Larga só beneficia quem pode pagar R$ 35, apontam pesquisadores

Leonardo Prado
Miro Teixeira
Miro Teixeira: lei deve garantir acesso do cidadão à banda larga.

Após um ano de implementação, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) já proporcionou crescimento significativo do número de acessos à banda larga, além do barateamento do preço do serviço – oferecido hoje, em média, por R$ 35. Especialistas temem, no entanto, que a universalização da banda larga no País esbarre na falta de recursos financeiros da população e na pouca capacitação do brasileiro para uso da internet.

O PNBL não prevê atualmente políticas públicas para as pessoas que não podem pagar R$ 35. O Ministério das Comunicações informa que esse ponto deve ser revisto na segunda etapa do programa, a ser lançada provavelmente em 2014.

Alcance do programa
Segundo dados do governo, desde o início do programa, cerca de 1.800 municípios (33% do total) passaram a oferecer banda larga de 1 mega por R$ 35. Isso possibilitou que quase 1 milhão de novos domicílios se conectassem à internet no último ano. O PNBL fixa que, até 2014, o serviço seja oferecido pelas concessionárias em todas as cidades.

O diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, destaca que a atuação da estatal Telebrás tem provocado a queda de preços do serviço. A Telebrás oferece sua rede a pequenas empresas empresas de internet a preços mais baratos do que o oferecido pelas concessionárias de telefonia fixa, possibilitando a competição com as grandes companhias. A rede da Telebrás já está praticamente implantada nas regiões Nordeste e Sudeste e em alguns municípios do Norte. Conforme Coimbra, em Macapá (AP), o preço caiu mais de 82% com o início da atividade da estatal, que fez parceria com uma pequena provedora. Antes ofertado a mais de R$ 200, hoje o serviço é vendido a R$ 35.

Empecilhos
Um dos responsáveis pelo Panorama das Telecomunicações no Brasil em 2011 e 2012, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o pesquisador Rodrigo Abdalla afirma que o maior empecilho para que as famílias das classes D e E tenham acesso à internet é o custo. De acordo com ele, esses cidadãos estão dispostos a pagar, no máximo, R$ 8 pelos serviços de telefonia – isso terá de ser dividido com os serviços de internet.

Abdalla argumenta ainda que não adianta a população ter acesso aos equipamentos e serviços sem saber usá-los. Ele ressalta que, atualmente, mais da metade dos brasileiros não tem contato com a internet, o que justifica o investimento em capacitação. “Especialmente em regiões mais pobres, o analfabetismo funcional é uma realidade que afeta diretamente os benefícios que a internet pode gerar.”

O pesquisador destaca também que o Estado precisa desenvolver conteúdos que interessem ao cidadão, como aplicativos educacionais e prontuários eletrônicos para os serviços de saúde.

Direito à banda larga
Para deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), ex-ministro das Comunicações, o direito individual ao acesso à banda larga deveria estar inscrito em lei. “Temos de assegurar rapidamente uma banda larga de qualidade para todos, porque ela facilita a vida nos negócios, na cultura, na educação, na comunicação, na marcação de consultas, na procura por trabalho, na verificação do fundo de garantia”, sustenta.

O direito fundamental do cidadão à banda larga é uma das reivindicações de um grupo de entidades da sociedade civil que lançou em abril a campanha "Banda Larga é um Direito Seu". Na opinião do movimento, a internet no Brasil é cara, lenta e concentrada em algumas regiões. Para mudar esse quadro, as instituições defendem que o serviço seja prestado não apenas em regime privado, como ocorre hoje, mas também em regime público.

A advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) – uma das entidades participantes da campanha –, Veridiana Alimonti, explica que, no regime público, há controle tarifário e metas de universalização para as concessionárias. “O preço não pode ser determinado pelas forças de mercado. As pessoas têm de ter acesso à banda larga mesmo que elas não tenham condições de pagar, e o serviço precisa chegar mesmo em lugares que não sejam economicamente interessantes.”

Os signatários do movimento pedem ainda maior espaço para a participação da sociedade civil na discussão sobre o tema, por meio do Fórum Brasil Conectado, criado pelo governo, porém inativo há dois anos.

A reativação do fórum também é uma das reivindicações previstas no relatório preliminar da subcomissão especial destinada a acompanhar as ações do PNBL. O texto, elaborado pelo deputado Newton Lima (PT-SP), foi aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática no final de 2011. Além disso, o documento recomenda a aprovação, pela Câmara, do projeto (PL 1481/07) que permite o uso de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para massificar a banda larga.

 

Reportagem – Lara Haje
Edição – Marcelo Oliveira

Agência Câmara de Notícias

 

Notícias

STJ garante à companheira partilha dos bens adquiridos durante união de 18 anos

09/03/2011 - 16h06 DECISÃO STJ garante à companheira partilha dos bens adquiridos durante união de 18 anos A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão que reconheceu a união estável, pelo período de 18 anos, de um casal cujo homem faleceu, bem como a partilha dos bens...

Pedido de justiça gratuita pode ser feito a qualquer tempo

Extraído de Veredictum Pedido de justiça gratuita pode ser feito a qualquer tempo by Max De acordo com a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, o pedido de concessão do benefício da justiça gratuita pode ser feito pela parte a qualquer momento ou grau de jurisdição. Quando for solicitado...

Trabalhador retirou-se da audiência porque calçava chinelos de dedos

  Indenização para trabalhador que, calçando chinelos, foi barrado em audiência (04.03.11) Um dia depois da matéria de ontem (3) do Espaço Vital sobre exigências formais (gravata, paletó e calçados) para participar de atos judiciais, surge a notícia de que a União foi condenada a reparar o...

Não é possível reconhecer uniões estáveis paralelas

23/02/2011 - 14h21 STJ decide que é impossível reconhecer uniões estáveis paralelas A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça admitiu que não é possível reconhecer uniões estáveis paralelas entre um funcionário público aposentado do Rio Grande do Sul e duas mulheres, com as quais manteve...