Reforma do Código Penal alimenta debate sobre maioridade penal

24/07/2014 - 17h00 Especial - Atualizado em 24/07/2014 - 18h40

Reforma do Código Penal alimenta debate sobre maioridade penal

Simone Franco

A redução da maioridade penal é um tema que continuará em debate não só no Plenário do Senado. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) deverá voltar à questão quando continuar a discussão do parecer do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) ao substitutivo do projeto de lei de reforma do Código Penal (PLS 236/2012).

Presidente da CCJ, Vital convocou uma série de audiências públicas, ao longo do semestre passado, para analisar pontos da revisão do CP com membros do Poder Judiciário. O ponto de partida era o substitutivo ao PLS 236/2012, elaborado pelo senador Pedro Taques (PDT-MT) e já aprovado por uma comissão especial do Senado.

Uma eventual mudança, no entanto, não poderá ser feita na reforma do Código Penal. É que a inimputabilidade prevista no art. 27 do CP é estabelecida também na Constituição (art. 228). Por isso, a redução em análise no Senado é sugerida por meio de proposta de emenda à Constituição (PEC 33/2012).

Opiniões contrárias

Pelo menos três expositores de peso – o procurador-geral da República (PGR), um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – se manifestaram contra a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, mesmo restrita à punição de adolescentes envolvidos com crimes hediondos ou reincidentes na prática de lesão corporal grave ou roubo qualificado.

— Como jurista, posso dizer que, em princípio, a redução da maioridade penal ofende cláusula pétrea da Constituição. Como cidadão, não vejo efetividade, objetividade em sua aplicação. Não estou convencido de que a redução da maioridade penal tenha o resultado que se espera. Colocar o adolescente num sistema (prisional) caótico como o nosso pode ter efeito contrário ao esperado, que é o de reeducação e ressocialização — argumentou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Posição contrária à mudança também foi manifestada pelo desembargador federal Guilherme Calmon, integrante do CNJ, e pelo ministro do STJ Sebastião Reis Júnior.

- É certo que o adolescente de quase 18 anos já tem amadurecimento suficiente para entender a gravidade da conduta. Mas, simplesmente transferi-lo para o sistema carcerário não será a solução. Em vez de resolver, vai piorar o sistema – afirmou Calmon.

O ministro do STJ, por sua vez, mostrou-se convencido de que a redução da maioridade penal não vai resolver o problema da criminalidade juvenil. Segundo ele, há por parte do Estado “falta de preparo para dar educação e uma perspectiva de vida aos menores carentes”.

Falta de perspectiva

Seja na CCJ, seja em Plenário, diversos senadores também reforçaram o apelo pela manutenção da maioridade penal em 18 anos. Para Roberto Requião (PMDB-PR), o ingresso de adolescentes no sistema carcerário só ajudaria a aumentar o número de criminosos, já que os distanciaria de qualquer medida socioeducativa. A PEC 33/2012, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), foi rejeitada pela CCJ, mas submetida a recurso para exame pelo Plenário do Senado.

Durante o debate na CCJ com o ministro Sebastião Reis Júnior, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) concordou com ele quanto à vinculação da criminalidade juvenil à falta de perspectiva.

– Eu tenho a convicção de que, mesmo os casos extremos (de violência envolvendo menores) colocados pela mídia, poderiam ser contornados se tivéssemos como aliados a educação de qualidade e o direito à sobrevivência para todos – comentou Suplicy na ocasião.

Já em Plenário, o senador Paulo Paim (PT-RS) observou que o fenômeno da violência urbana é muito complexo para ser resolvido apenas com a redução da maioridade penal. Em maio passado, integrantes da União da Juventude Social (UJS) aproveitaram a realização de um evento, em Brasília, para protestar no Congresso contra a proposta de aplicação da lei penal a adolescentes infratores. Na ocasião, os jovens pediram mais investimentos em educação e mais acesso à cultura e ao esporte.

 

Agência Senado

 

Notícias

Divórcio é decretado antes da citação do cônjuge, que reside nos EUA

Divórcio é decretado antes da citação do cônjuge, que reside nos EUA 16/01/2025 Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM A Justiça do Rio de Janeiro decretou o divórcio antes da citação do cônjuge, um americano que reside nos Estados Unidos. A decisão da 2ª Vara de Família da Regional da Barra da...

Holding deixada de herança: entenda o que a Justiça diz

Opinião Holding deixada de herança: entenda o que a Justiça diz Fábio Jogo 14 de janeiro de 2025, 9h14 Sem uma gestão transparente, o que deveria ser uma solução para proteger o patrimônio pode acabar se transformando em uma verdadeira dor de cabeça. Leia em Consultor Jurídico      ...

STJ admite penhora de direito aquisitivo de imóvel do Minha Casa, Minha Vida

DEVE, TEM QUE PAGAR STJ admite penhora de direito aquisitivo de imóvel do Minha Casa, Minha Vida Tiago Angelo 12 de janeiro de 2025, 9h45 “Nesse contexto, como ainda não se adquiriu a propriedade plena do imóvel, eventual penhora não poderá recair sobre o direito de propriedade – que pertence ao...

Artigo 5º - Contratos de namoro: precaução ou burocracia?

Artigo 5º - Contratos de namoro: precaução ou burocracia? O Artigo 5º aborda o crescimento do uso dos contratos de namoro no Brasil, que registrou um aumento significativo em 2023. O programa traz a advogada Marcela Furst e a psicóloga Andrea Chaves para discutir os motivos que levam os casais a...

Imóvel como garantia: O que muda com a nova regulamentação do CMN?

Imóvel como garantia: O que muda com a nova regulamentação do CMN? Werner Damásio Agora é possível usar o mesmo imóvel como garantia em várias operações de crédito. A resolução CMN 5.197/24 amplia o acesso ao crédito imobiliário para pessoas físicas e jurídicas. domingo, 5 de janeiro de...