Afeto e cuidados desde a gravidez evitam comportamentos violentos, apontam debatedores
19/10/2011 - 16h12
A relação de afeto e cuidados estabelecida entre mãe e filho desde a gravidez é fundamental para o equilíbrio psicossocial do indivíduo, podendo livrá-lo, inclusive, de desenvolver um comportamento violento no futuro. A importância dessa intervenção precoce para a estabilidade mental e emocional das grávidas e de seus bebês foi enfatizada, nesta quarta-feira (19), em audiência pública conjunta das Comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE); de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
A depressão materna foi apontada pela psicóloga brasileira Jaqueline Wendland e pela psiquiatra francesa Monique Bydlowski, ambas radicadas na França, como uma das principais ameaças ao equilíbrio nesse vínculo. Segundo Wendland, o mal atinge até 20% das mulheres durante a gravidez e até 15% delas após o parto. A psicóloga alerta que a incapacidade da mãe em atender às necessidades do bebê e lhe dar carinho acaba por interferir em seu desenvolvimento.
Gritos, choros excessivos, distúrbios de sono podem ser algumas respostas da criança ao abandono materno, conforme realçou Monique Bydlowski. Se a depressão da mãe pode surgir ou se agravar por carências afetivas ou financeiras, o bebê pode reagir a esse distanciamento apresentando distúrbios emocionais e cognitivos, como dificuldades futuras de adaptação escolar.
Visitas domiciliares
A formação de equipes de cuidadores para acompanhar mães e bebês em visitas domiciliares foi sugerida por Bydlowski como uma medida eficaz para prevenir a depressão materna e suas conseqüências. Essa recomendação também recebeu o apoio do presidente da Frente Parlamentar da Primeira Infância da Câmara dos Deputados, o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS).
- O programa mais importante na área social hoje deve ser o de cuidadores da primeira infância (crianças de zero a seis anos) - sustentou, citando como política pública de sucesso na área o programa Primeira Infância Melhor, que atende a 100 mil crianças no Rio Grande do Sul em visitas domiciliares semanais.
Os senadores Paulo Paim (PT-RS), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Lídice da Mata (PSB-BA) também viram essa iniciativa com simpatia. Todos se disseram prontos a viabilizar propostas legislativas e de políticas públicas que priorizem a assistência à primeira infância, fase em que o ser humano adquire as competências básicas para se desenvolver pelo resto da vida.
Essa disposição dos parlamentares foi elogiada pelo cineasta argelino Bernard Martino, diretor do filme Emmi Pikler, uma pediatra à frente de sua época, e Instituto Pikler de Budapeste - um lugar de destaque na humanidade, que será exibido nesta quinta-feira (20), às 9h, dentro da programação da 4ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz.
Martino classificou o Instituto Pikler - dedicado aos cuidados com crianças abandonadas pela família - como uma "fábrica de resiliência (capacidade de superação em meio a situações adversas)". E creditou esse mérito ao trabalho da médica Emmi Pikler, que assumiu o abrigo após a Primeira Guerra Mundial e resolver combater uma era de violência acolhendo essas crianças desassistidas com cuidado e carinho.
Simone Franco / Agência Senado