Consumo consciente é “a defesa da vida, do ecossistema”
Supermercado no Distrito Federal: reduzir, reutilizar e reciclar são as regras básicas para adotar o consumo consciente Edilson Rodrigues/Agência Senado
Consumir menos gera economia e preserva o meio ambiente
Patrícia Oliveira | 18/10/2016, 10h16
A atitude do consumidor na hora de comprar pode fazer muita diferença para o meio ambiente e para o futuro do planeta. É necessário levar em conta bem mais do que o preço, a qualidade e a marca do produto. É preciso avaliar as consequências de cada escolha para evitar o esgotamento dos recursos da natureza, que são limitados e difíceis de repor.
Água, combustíveis fósseis, madeira, tudo isso pode acabar um dia se não houver um consumo consciente. Medidas simples como escovar os dentes com a torneira fechada, reduzir a impressão de papéis ou abolir o uso do carro em pequenas distâncias contribuem para a garantia de um mundo mais equilibrado com menos desperdício.
As pequenas mudanças em nosso dia a dia incluem ainda pensar em como é feito o produto e qual o seu destino final. Por exemplo, usar sacolas de tecido em vez de sacolas plásticas, que gastam muita água e energia na sua confecção, poluem o ambiente e levam centenas de anos para se decompor.
Onde comprar também é uma decisão importante. A empresa é certificada? É reconhecida por práticas socioambientais? A matéria-prima é extraída de forma sustentável? Tem embalagens recicláveis? Usa trabalho escravo ou infantil?
Para o Ministério do Meio Ambiente, o consumidor consciente é aquele que considera, ao escolher os produtos que compra, o meio ambiente, a saúde humana e animal e as relações justas de trabalho.
Dia do consumidor
A data de 15 de outubro foi instituída, em 2009, como o Dia do Consumidor Consciente, que age de forma responsável e solidária, pensando nas gerações que ainda virão. Para a diretora do Departamento de Produção e Consumo Sustentáveis do Ministério, Raquel Breda, essa prática deve ser estimulada desde muito cedo, com as crianças.
— A compreensão de que se pode viver e ser feliz com menos e sem apego aos bens materiais, evitando assim o consumismo, é um ato de formação do indivíduo para a cidadania ambiental — afirma.
Antes de consumir, as pessoas devem se fazer perguntas: preciso mesmo de um aparelho celular novo? Será que o armário não está lotado de roupas e sapatos sem uso, comprados por impulso? E aquele objeto quebrado, será que não dá para consertar?
Ou que tal trocar? Diversas iniciativas da sociedade, como as feiras nas quais se troca de brinquedo a computador, além de sites colaborativos na internet que incentivam essa prática, estimulam valores como o desapego, o respeito ao próximo e ao meio ambiente.
O consumo consciente segue o chamado Princípio dos 3 Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. O Instituto Akatu sugere mais um R, de refletir.
Excesso de lixo
Com 15 anos de existência, o Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos, de São Paulo, que trabalha pela conscientização da sociedade em prol de novos estilos de vida viabilizados por modelos sustentáveis de produção e consumo.
A meta é ambiciosa: garantir uma transformação na mentalidade do consumidor, de forma a mobilizar a população brasileira até o final de 2022.
Para estimular a mudança de comportamento, são realizadas campanhas em escolas e na mídia, pesquisas e eventos com foco na educação. O instituto também atua em parceria com empresas.
Quanto mais consumimos, mais lixo produzimos. Só no ano passado, o Brasil gerou 79,9 milhões de toneladas de lixo. O dado é da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A quantidade de materiais descartados continua a aumentar no país, tanto em termos absolutos como por indivíduo.
Em 2015, quase 30 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram depositados em lixões ou aterros que não estão adaptados de forma a proteger o meio ambiente.
A reciclagem é uma das ações prioritárias previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A lei de 2010 também estabelece a chamada logística reversa, que é a devolução ao fabricante de produtos como embalagens de agrotóxicos, óleos lubrificantes e pneus, pilhas e baterias, lâmpadas, peças e equipamentos eletrônicos e de informática e eletrodomésticos.
Essa prática mobiliza os consumidores, que restituem o material, responsabiliza as empresas, que reaproveitam o resíduo em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, e promove a integração de municípios na destinação final dos resíduos.
— Como consumidores podemos agir de modo ambientalmente correto em relação ao resíduo que produzimos. Estudos apontam que cada cidadão produz cerca de um quilo de lixo por dia. Mas esse lixo não é lixo. Entre 60% e 70% podem ser reaproveitados, pela compostagem, pela reciclagem ou pela reutilização. Então, de fato, só um percentual bem inferior é destinado ao aterro por ser considerado rejeito — explica a consultora do Senado, Karen Kassmayer.
O que significa que não só o poder público é responsável pelos resíduos. Karen defende a prática da coleta seletiva na casa de cada consumidor.
— Separar os resíduos de acordo com a classificação e destinar ao local correto: garrafas plásticas, embalagens em geral, vidros em uma categoria, papéis e papelão em outra. Em países desenvolvidos, o próprio cidadão participa da gestão do resíduo. Inclusive, sob pena até de multas e outras sanções. Mas aqui no Brasil nós temos primeiro o desafio de estimular que o consumidor faça essa coleta seletiva”, completa a consultora.
Projetos propõem medidas para o consumo sustentável
Propostas apresentadas no Senado incentivam o consumo consciente, entre elas a de iniciativa do senador Eduardo Amorim (PSC-SE) que regulamenta o recolhimento e a destinação final de baterias automotivas e industriais usadas (PLS 537/2011). Para cada bateria nova, os comerciantes terão de comprovar a coleta da mesma quantidade de produtos fora de uso.
Wilder Morais (DEM-GO) propôs a instalação obrigatória de sistemas de aproveitamento de água da chuva na construção de prédios públicos (PLS 191/2013). A água captada servirá para descargas em vasos sanitários, irrigação de jardins e limpeza de pisos.
Outra proposta é o substitutivo de Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) ao PLS 187/2012, de Paulo Bauer (PSDB-SC), que propõe a dedução de até 50% do Imposto de Renda sobre o valor total das doações feitas para projetos de reciclagem.
— A reciclagem de materiais e produtos é estratégica para o Brasil, com benefícios econômicos, ambientais e sociais — afirma Bezerra.
O consumo consciente dos recursos em prédios públicos também é fundamental. O Senado dá o exemplo e já adota práticas permanentes como monitorar o consumo de água, energia e combustível e fazer coleta seletiva do lixo.
— Esse tipo de atitude deve servir de exemplo para outros Poderes e se multiplicar para toda a sociedade — avalia José Medeiros (PSD-MT).
Também foi reduzida a distribuição de copos plásticos descartáveis. A pauta da ordem do dia passou a ser quase toda eletrônica, o que evita o consumo de 8,5 milhões de folhas de papel por ano, um custo de cerca de R$ 300 mil anuais.
Ana Amélia (PP-RS) destacou que “não é só a questão da sustentabilidade do ambiente, é também o bolso, porque isso custa caro”.
Para Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), é importante “o exemplo individual, não só nos locais de trabalho, mas também nos locais de moradia”.
Já Paulo Paim (PT-RS) afirmou que o consumo consciente é “a defesa da vida, do ecossistema”
Agência Senado