DataSenado: brasileiros minimizam fator racial ao avaliar mortes de jovens

07/11/2012 - 19h15 Presidência - Atualizado em 07/11/2012 - 22h10

DataSenado: brasileiros minimizam fator racial ao avaliar mortes de jovens

Da Redação

Embora dados do Ministério da Saúde apontem os jovens de cor negra como as maiores vítimas da violência, os brasileiros tendem a achar que os homicídios atingem de maneira semelhante os jovens brancos e os negros. A constatação é de uma pesquisa realizada pelo DataSenado de 1º a 11 de outubro deste ano com 1.234 pessoas de 123 municípios do país, incluindo todas as capitais.

Os resultados do levantamento vieram à luz nesta quarta-feira (07) durante solenidade na qual o Senado aderiu à campanha "Igualdade Racial é pra Valer", da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Diante dos números, a titular da Seppir, Luiza Bairros, adverte que eles não refletem apenas o grau de informação da sociedade, mas, acima de tudo, a influência dos valores étnicos na percepção dos problemas sociais.

Para a maior parte dos entrevistados (62,3%), jovens brancos e negros são mortos na mesma proporção, enquanto 31,4% concordam que jovens negros são mortos em maior proporção que os brancos. Apenas 26,3% dos participantes acreditam que a cor dos jovens tem influência no número de mortes.

As estatísticas oficiais, entretanto, revelam um quadro com outros contornos: 53% dos homicídios vitimam pessoas jovens, das quais mais de 75% são jovens negros, de baixa escolaridade, sendo a maioria do sexo masculino. O número de mortes de jovens negros passou de 14.055 em 2000 para 19.255 em 2010 – um crescimento de 37%.

Os resultados da pesquisa mostram que a disseminação de informações e a assimilação delas pela população está aquém do esperado. Ainda assim, os pesquisadores captaram entre os brasileiros a visão já consolidada de que, sem levar em conta a faixa etária, a violência atinge mais as mulheres e os negros. Os principais grupos vulneráveis à violência foram indicados por aproximadamente 67% dos entrevistados.

Renda

Segundo a diretora da Secretaria de Opinião Pública do Senado (Sepop), Elga Lopes, “a população parece aceitar com mais facilidade a ideia de que as mortes violentas estão associadas a fatores socioeconômicos do que a fatores raciais”. Um indício dessa afirmação é que 90,4% declararam acreditar que a violência mata mais pobres do que ricos.

Perguntados sobre as causas das mortes entre jovens, 63% dos entrevistados atribuíram a violência a aspectos sociais, enquanto 34,8% identificaram fatores comumente associados ao comportamento juvenil de risco. Quando inquiridos especificamente sobre a principal causa de morte entre os jovens, a maioria indicou o uso de drogas (56,2%), os acidentes de trânsito (22,4%) e os homicídios (19,8%).

A fim de evitar que as respostas a perguntas genéricas distorcessem uma percepção mais apurada do que os entrevistados pensam sobre a questão da violência, os entrevistadores apresentaram indagações mais específicas. Diante, por exemplo, da frase “homicídio é a principal causa de morte dos jovens negros”, 56,6% dos entrevistados se manifestaram favoravelmente. Percentual semelhante (55,8%) foi registrado para os que concordaram com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte violenta de um jovem branco”. E para 55,1% dos participantes da pesquisa é correto afirmar que “a principal causa de homicídios de jovens negros é o racismo”.

Elga Lopes chama a atenção para outros resultados que merecem análise. Os pesquisadores procuraram mensurar a consciência dos entrevistados sobre “o estigma da pele, uma marca de nascença que influencia a vida das pessoas e é carregada até à morte”. Questionados, quase 52% afirmaram que ser negro ou branco no Brasil, hoje, afeta a vida de uma pessoa – contra 46% que acreditam não afetar.

A diretora destaca, ainda, que a diferença de tratamento por policiais, experimentado por brancos e negros participantes da pesquisa, “chega a ser gritante”. Cerca de 20% dos brancos afirmaram ter se sentido ameaçados ou ofendidos por policiais, quando abordados. Esse mesmo percentual, entre os negros, chega próximo de 30%. Já o tratamento cordial e polido foi relatado por mais de 60% dos brancos – e por menos de 45% dos negros.

Imagens negativas

Na opinião da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, os dados mostram a dimensão da diferença de valor que têm as vidas dos brancos e negros no Brasil.

- Esses resultados decorrem dos vários estereótipos e das imagens negativas que o racismo cola na pessoa negra. Na verdade, o racismo é uma tentativa de desumanização daqueles grupos considerados inferiores - avaliou a ministra.

Luíza Bairros apontou como principal contribuição da pesquisa revelar que “os brasileiros estão perdendo o medo de revelar conflitos derivados do racismo na nossa sociedade".

- Isso é muito bom. Quando o problema é admitido, há mais condições de combatê-lo - observou.

Na opinião de 36,4% dos entrevistados, a principal ação para combater o racismo deve ser a melhoria do ensino nas escolas. A mudança nas leis foi assinalada por 22,7% ao passo que 20,8% consideraram, como principal ação, a garantia do cumprimento das leis.

– A partir da pesquisa, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário poderão fazer um trabalho de combate mais forte contra o preconceito. A própria pesquisa mostra que há dois caminhos: mais investimento em educação e a legislação. Por isso, aprovamos o Estatuto da Igualdade Racial e a política de cotas nas universidades - disse o senador Paulo Paim (PT-RS).

Banalização

Ao citar estatísticas apresentadas pelo Mapa da Violência no Brasil, do Instituto Sangari, que apontaram a ocorrência de 1,1 milhão de homicídios no país nos últimos 30 anos, o presidente do Senado, José Sarney, se disse indignado com a banalização da violência no país. Sarney é autor de Projeto de Lei do Senado 38/2012, que propõe um endurecimento das leis que tratam de homicídio no país.

- Não choca mais os brasileiros os crimes dessa natureza. Precisamos restaurar o valor da vida – disse o senador.

 

Agência Senado

 

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