Debatedores divergem sobre combate ao assédio ideológico em sala de aula

06/10/2015 - 19h37

Debatedores divergem sobre combate ao assédio ideológico em sala de aula

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o Assédio Ideológico nas Escolas Brasileiras de Educação Básica. Dep. Rogério Marinho
Rogério Marinho: o assédio ideológico nas escolas viola a Constituição

O assédio ideológico praticado por professores em escolas foi tema de audiência pública nesta terça-feira (6) na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A comissão vem recebendo denúncias de que estudantes vêm sendo doutrinados ideologicamente por professores em sala de aula. Duas propostas sobre o tema já tramitam na Casa.

A comissão recebeu seis convidados, três a favor e três contra medidas que impeçam o assédio ideológico nas escolas. O autor de uma das propostas (PL 1411/15), deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), defende o combate a esse tipo de assédio.

"A criança e o jovem são a parte fraca da relação aluno/professor. Imagine que um posicionamento político-ideológico do professor é contraditado por aluno em prova, ele pode inclusive perder nota", disse o deputado. Rogério Marinho afirmou que essa prática viola a Constituição.

Já o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin, disse que a proposta impede que alunos e professores se integrem para discutir problemas da própria comunidade.

"Os alunos que fazem parte de uma comunidade não podem ser incentivados a participar de um movimento democrático reivindicatório de toda a comunidade?”, questionou. “Isso cria uma zona de penumbra que é complicada, porque nós poderemos criar um clima de medo, o que não é bom para a educação", afirmou Franklin.

Liberdade de expressão
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Bráulio Tarcísio, no entanto, o professor deve estar na sala de aula apenas para ensinar sua disciplina.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) discordou desse posicionamento. "Não existe qualquer possiblidade de se negar a relação entre escola e sociedade. A escola só faz sentido quando é integrada ao processo de transformação da sociedade", afirmou.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o Assédio Ideológico nas Escolas Brasileiras de Educação Básica. Professor da Universidade de Brasília - UnB, Erlando Silva Rêses
Erlando Rêses: proposta cerceia a liberdade de expressão dos professores

Mesma opinião teve o professor da UnB Erlando Rêses. Para ele, a medida cerceia a liberdade de expressão, garantida na Constituição e também em acordos internacionais, como a Convenção Interamericana de Direitos Humanos.

Porém, o coordenador do Movimento Escola Sem Partido, Miguel Nagib, afirmou que esse argumento não cabe, ressaltando que o professor precisa cumprir suas obrigações de ensinar e que a sala de aula tem regras.

Ele defendeu proposta (PL 867/15) em tramitação na Comissão de Educação que obriga a fixação, nas salas de aula, dos “deveres do professor”, para impedi-lo de cooptar para correntes políticas, ideológicas e partidárias, incitar alunos a participarem de manifestações ou prejudicar os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas.

Miguel Nagib afirmou que o Movimento Escola Sem Partido apenas defende a aplicação em sala de aula do que já está previsto na Constituição, como a liberdade de consciência e crença do estudante. Além disso, ele afirmou que a prática da doutrinação ideológica viola o princípio da neutralidade política e ideológica do Estado, que não pode favorecer um determinado partido.

"Tudo o que nós defendemos é que os estudantes, que são vítimas da doutrinação política-ideológica em sala de aula, sejam informados de direitos que eles já têm”, afirmou.

O relator da proposta, deputado Izalci (PSDB-DF), disse que retirou do texto o dispositivo que criminalizava o assédio ideológico. Ele informou que vai apresentar o relatório sobre o projeto na Comissão de Educação em mais ou menos 15 dias.

ÍNTEGRA DA PROPOSTA:

Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Pierre Triboli
Origem da Foto em destaque/Fonte: Agência Câmara Notícias

 

Notícias

Penhora de bem alienado fiduciariamente por dívidas propter rem

Penhora de bem alienado fiduciariamente por dívidas propter rem Flávia Vidigal e Priscylla Castelar de Novaes de Chiara O STJ mudou seu entendimento sobre a penhorabilidade de imóveis alienados fiduciariamente em execuções de despesas condominiais, reconhecendo a possibilidade de penhorar o bem,...

Ministro do STJ exclui área ambiental do cálculo de pequena propriedade rural

Impenhorabilidade Ministro do STJ exclui área ambiental do cálculo de pequena propriedade rural STJ decidiu que, para impenhorabilidade, apenas a área produtiva de pequenas propriedades rurais deve ser considerada, excluindo-se a área de preservação ambiental. Decisão baseou-se em assegurar que...

Tribunal nega registro civil tardio de casamento de bisavós

Tribunal nega registro civil tardio de casamento de bisavós 20/07/2021 Prova de existência de filhos não é suficiente. A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve decisão do juiz Seung Chul Kim, da 1ª Vara Cível de Cotia, que negou pedido de registro tardio de...

Inseminação caseira: Veja impacto jurídico da prática não regulada no país

Reprodução assistida Inseminação caseira: Veja impacto jurídico da prática não regulada no país Recente decisão do STJ, reconhecendo dupla maternidade em caso de inseminação caseira, denota a urgência do tema. Da Redação segunda-feira, 4 de novembro de 2024 Atualizado às 09:56 Registrar o...