Entidades apontam círculo vicioso na economia que provoca queda na produção
Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Entidades apontam círculo vicioso na economia que provoca queda na produção
A queda de 10% da produção industrial no País, um dos indicadores da crise financeira, preocupa representantes de vários setores da economia ouvidos em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara.
Eles apontaram a existência de um círculo vicioso na economia: a queda nos financiamentos paralisou os investimentos, o que diminuiu a produtividade e contribuiu para a desaceleração do consumo.
O diretor da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini, listou alguns dos problemas estruturais que ele considera que paralisam a economia: a falta de investimentos em tecnologia, o alto custo da mão de obra, a baixa produtividade e a deficiência de infraestrutura.
Nenhum deles é mais importante, segundo ele, que a falta de investimentos do País, que é apenas metade do que o registrado nos demais países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Mercado financeiro
De acordo com Bernardini, no Brasil é mais rentável investir no mercado financeiro que na produção industrial. "Até 2009 as empresas conseguiam pagar o dinheiro dos empréstimos. A partir de 2009, com a queda da rentabilidade das empresas não financeiras - as financeiras estão muito bem, obrigado - se eu tomar um empréstimo, eu não vou conseguir pagar com o resultado da operação; se eu comprar uma máquina, ela não se paga.”
O dirigente acrescentou que isso significa que “investir no Brasil é burrice. É muito melhor colocar o dinheiro no banco da esquina, em títulos do Tesouro que me rendem 14, 15% ao ano."
Exportações
Já o representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Humberto Barbato, disse que a falta de financiamento para exportações faz com que as empresas brasileiras deixem de ser competitivas. "O mundo é globalizado. Como disse o Mário Bernardini, nós não vamos conseguir exportar equipamentos se a gente não tiver financiamento à exportação. Isso é em função da concorrência mundial que a gente vive. Não adianta só se ter preço, A gente tem que ter as condições de venda do mercado internacional. Isso é fundamental."
Barbato, que é presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, criticou também as mudanças previstas na Medida Provisória 694/15, enviada pelo governo ao Congresso no início de outubro e que reduziu benefícios fiscais concedidos às empresas que investem em pesquisa a inovação.
Os últimos indicadores do governo apontam uma leve recuperação das exportações, principalmente por causa do câmbio, que favorece quem vende para outros países.
As exportações de carros para o México, por exemplo, aumentaram 30% entre janeiro e setembro.
Redução de incentivos
Financiamento do BNDES
A diminuição dos incentivos às empresas é uma das medidas do ajuste fiscal promovido pelo governo, que incluiu também a redução dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outro fator criticado na audiência pública.
O deputado Júlio César (PSD-PI) criticou a redução dos investimentos oficiais e acrescentou outro fator, os juros altos, que tornam ainda mais caros os financiamentos.
Segundo ele, isso piorou depois das desonerações feitas em vários setores da economia, o que diminuiu a arrecadação. "As desonerações chegaram no ano passado a R$ 112 bilhões, o subsídio do BNDES a R$ 25 bilhões. O governo não tem dinheiro, capta no mercado a Selic e aporta no BNDES e o governo paga essa equalização da taxa."
No primeiro semestre deste ano, os financiamentos do BNDES à indústria caíram quase 20%, se comparados ao mesmo período do ano passado.
O superintendente da Área Industrial do banco, Maurício Neves, admitiu a queda, principalmente no Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame).
Mas ele garantiu que projetos industriais aprovados continuam recebendo recursos. "As grandes fábricas em construção, projetos que foram decididos há um e meio, dois anos atrás, eles continuam, são projetos que pensam no longo prazo, pensam no Brasil de uma retomada de crescimento.”
Neves assinalou que o que sofre mais efetivamente com a retração do desembolso é a Finame. “É a área de exportação que lida com aspectos de comercialização, que são decisões mais vinculadas à aquisição efetivamente de bens de capital, que sentem efetivamente os efeitos desse momento mais recessivo."
Preço dos insumos
Para outro representante do governo na audiência, o secretário do Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Carlos Gadelha, o clima de pessimismo contamina a economia.
Ele procurou dar algum otimismo aos empresários e garantiu que o ministério está atuando para diminuir o preço dos insumos. "Os setores que estão na base da cadeia produtiva não podem ser caros. Falando em bom português: se a matéria-prima é cara, o produto é caro e nós não somos competitivos. Existe toda uma preocupação para se reduzir os custos de energia para a indústria, isso tem que ser uma variável central.
Gadelha informou que o ministério já entrou na discussão sobre os custos dos insumos.
Edição – Regina Céli Assumpção