Fosfoetanolamina em debate

Alysson Muotri, doutor e pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos: "Pular etapas é perigoso"  Pedro França/Agência Senado

Fosfoetanolamina: em debate na CCT, pesquisadores defendem mais testes antes de liberação

  

Simone Franco | 22/10/2015, 16h24 - ATUALIZADO EM 23/10/2015, 13h25

A polêmica sobre a liberação ou não do uso da fosfoetanolamina — substância ainda sem testes clínicos, mas apontada como revolucionária no tratamento do câncer — acabou chegando a debate da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), nesta quinta-feira (22), sobre o desenvolvimento de tecnologia na área de saúde.

Lasier Martins (PDT-RS) requereu o debate sobre a fosfoetanolamina, juntamente com Hélio José (PSD-DF)  Pedro França/Agência Senado

A questão da fosfoetanolamina foi levantada pelos senadores Hélio José (PSD-DF), vice-presidente da CCT, e Lasier Martins (PDT-RS). O assunto também será tema de uma audiência pública conjunta com as Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) na próxima quinta-feira (29).

Entre os expositores convidados pela CCT, prevaleceu o entendimento sobre o risco de se comercializar um medicamento sem experimentos prévios que comprovem sua eficácia e segurança.

O pesquisador Alysson Muotri e o senador Hélio José (PSD-DF) na audiência pública da CCT  Pedro França/Agência Senado

— A princípio, acho irresponsável distribuir uma droga para o câncer sem passar por uma fase pré-clínica e clínica rigorosa. Pular etapas é perigoso. Eu seria mais cauteloso com isso — opinou o biólogo Alysson Muotri, pesquisador do Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, com foco em autismo.

Parecer similar foi dado pelo médico e também pesquisador Marcelo Morales, diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

— Entendo a ansiedade das pessoas que têm câncer, desesperadas em usar um remédio que dê resultado. Mas, em relação à ciência, não se pode pular etapas — considerou Morales, observando que as etapas de segurança começam com o teste da droga in vitro, seguido por experimentos com animais, até culminar com três fases de testagem em humanos.

Uso de animais

Outro assunto controvertido em pauta foi o uso de animais em testes realizados pela indústria farmacêutica.

De acordo com o representante no Brasil da Human Society International (HSI), entidade que atua pela eliminação de testes com animais em laboratório, Helder Constantino, um crescente número de artigos científicos tem demonstrado a limitação da testes de fármacos em animais, o que chegaria a impedir a extrapolação dos dados obtidos para humanos.

— A abordagem da HSI é se aproximar de cientistas que acreditam no potencial das novas tecnologias no seu campo de pesquisa e trabalhar com eles para promover esses métodos. Acreditamos que as novas tecnologias podem ser a chave para melhorar as terapias de algumas das mais graves doenças do mundo — comentou Constantino, defendendo a substituição de testes em animais por técnicas in vitro e computacionais.

Marcelo Morales, diretor do CNPq: "Em relação à ciência, não se pode pular etapas"  Pedro França/Agência Senado

Visão distinta foi expressada por Marcelo Morales, para quem o desenvolvimento de um medicamento passa, obrigatoriamente, por testes com animais, protegidos em laboratório pela Lei 11.794/2008. De qualquer modo, ele observou que o CNPq já lançou a Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama), admitindo ainda ser possível alcançar, no futuro e paulatinamente, a redução no uso de animais em laboratórios de pesquisas.

Já Alysson informou usar modelos animais em suas pesquisas sobre autismo — camundongos, em sua maioria —, mas reconheceu as limitações para transpor os resultados alcançados para humanos. É nessa perspectiva que o estado da Califórnia tem investido no estudo de novos fármacos com modelos humanos (células tronco), conforme acrescentou.

— Na Califórnia, você pode pular o teste em animal, enquanto aqui é requisitado [para liberação comercial de um medicamento] — comentou Alysson.

 

Agência Senado

Notícias

TJ/MT vê apartamento como bem familiar e determina impenhorabilidade

Penhora TJ/MT vê apartamento como bem familiar e determina impenhorabilidade Colegiado entendeu que imóvel é usado como residência familiar, garantindo sua proteção como bem de família. Da Redação segunda-feira, 9 de dezembro de 2024 Atualizado em 10 de dezembro de 2024 08:32 A 4ª câmara de Direito...

Busca e apreensão de idoso é justificável se ele quiser mudar de lar

Troca de família Busca e apreensão de idoso é justificável se ele quiser mudar de lar Paulo Batistella 5 de dezembro de 2024, 10h31 O juiz também determinou que uma equipe de assistência social do município realize, em até 15 dias, um estudo psicossocial em face das partes e das residências de...

Pode ser feita a venda de um imóvel em inventário?

Opinião Pode ser feita a venda de um imóvel em inventário? Camila da Silva Cunha 1 de dezembro de 2024, 15h28 A novidade é que, recentemente, no dia 30 de agosto de 2024, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou a Resolução nº 571/24 que, dentre outras alterações, possibilitou a autorização...