Políticas públicas em Educação devem considerar pesquisas do setor, dizem especialistas
Políticas públicas em Educação devem considerar pesquisas do setor, dizem especialistas
Pesquisadores do Centro Lemann de Stanford participaram, nesta quarta, do ciclo de palestras "Educação em Debate", a convite da Frente Parlamentar Mista da Educação
O professor e pesquisador Paulo Blikstein, da Universidade de Stanford (EUA), defendeu investimentos na pesquisa em Educação e na formação de professores para o País superar o atraso do sistema de ensino. “Não basta intuição. Para desenhar um sistema educacional eficiente, o Brasil precisa se basear em evidências objetivas”, sustentou o professor, que participou, nesta quarta-feira (15), na Câmara dos Deputados, do ciclo de palestras “Educação em Debate”, a convite da Frente Parlamentar Mista da Educação.
Bilkstein e o professor americano David Plank falaram da pesquisa acadêmica do Centro Lemann de Stanford, programa desenvolvido há dez anos em uma parceria entre a Stanford Graduate School of Education e a Fundação Lemann, para promover a melhoria da educação pública brasileira. As atividades do centro incluem a formação de pesquisadores e professores, o desenvolvimento profissional de educadores brasileiros, e a investigação sobre as políticas educativas e de aprendizagem inovadoras.
Plank acrescentou que a estratégia do Centro inclui também formar uma rede de especialistas voltados à melhoria da Educação e disseminar novos conhecimentos desenvolvidos no setor.
Pesquisa e políticas públicas
Os dois professores defenderam a tese de que os pesquisadores brasileiros poderiam ajudar os formuladores e tomadores de decisão a promoverem melhores políticas. “Pesquisas fazem diferença nas políticas públicas”, garantiu David Plank.
Paulo Blikstein explicou que as pesquisas podem ajudar na formulação a partir da leitura crítica das propostas, e fazer a conexão das iniciativas nacionais com os diversos trabalhos já realizados, aproveitando a experiência de outros países. Um exemplo, apontou, é o debate sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em discussão atualmente no Brasil.
Base Nacional Curricular
O presidente da Frente da Educação no Congresso, deputado Alex Canziani (PTB-PR), defendeu a adoção de uma base nacional curricular no Brasil. “Se o grande desafio do Brasil no passado era ter todas as crianças na escola, hoje o nosso objetivo é melhorar a qualidade na educação. A base é um importante instrumento para isso, pois ela garante o direito dos alunos à aprendizagem, permite aos pais acompanharem melhor o aprendizado dos seus filhos, dá aos professores e gestores da educação os parâmetros para avaliar a qualidade da educação nas escolas”, argumentou Canziani.
Blikstein sustentou que a base curricular se mostrou um dos raros instrumentos de política pública que conseguiram promover mudanças na Educação em larga escala com eficiência em todo o mundo.
“A base é aspiracional, tem que olhar para o futuro, a direção tem que ser moderna. A base tem que ter qualidade, porque mexe com estratégias de 15 - 20 anos, impacta na reformulação de livros didáticos, investimentos em laboratórios e na formação de professores”, disse o professor.
Profundidade X quantidade
O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) manifestou preocupação de que a amplitude da Base Nacional Comum Curricular possa comprometer seus objetivos. Ele pediu mais prazo para esse debate: "Estamos falando de 60 milhões de alunos. Deveríamos, primeiro, implementar uma base comum apenas para as matérias de Português e Matemática, deixando as outras para depois”, defendeu Marinho.
Bilkstein foi nessa direção: “Uma questão importante é a profundidade dos conteúdos. Uma recomendação é focar na profundidade no lugar de uma quantidade maior de conteúdos. Os especialistas precisam ter experiência no conteúdo, mas também em educação. Antes, os técnicos apenas listavam um conteúdo pretendido e deixavam o sistema se virar para passar para os alunos. Precisamos de técnicos que entendam profundamente do processo pedagógico”, ponderou .
Plank explicou que a base nacional curricular dos EUA começou, como propõe Marinho, por duas matérias: inglês e matemática. Para ele, a qualidade é central na discussão da BNCC. “O processo deve ser inclusivo, aberto, mas também rigoroso. Lançar mão de especialistas para estabelecer bons padrões. A base é a alavanca para mudar, mas não é a mudança em si. É preciso compromisso com a implementação. É também preciso estar atento aos padrões, que mudam constantemente, fazer avaliações periódicas e formação permanente. A base é o primeiro passo de uma jornada longa que exige comprometimento”, acrescentou Plank, que participou esta semana de um debate sobre a BNCC, realizado em São Paulo pelo Centro Lemann de Stanford.
Com informações da Frente Parlamentar Mista de Educação