“Um novo mundo se abriu para mim”

Foto: Agência CNJ

Iniciativas consolidam medidas em proteção às mulheres vítimas da violência

01/08/2013 - 08h45

“Um novo mundo se abriu para mim”. É assim que Daniela, 27 anos de idade, resume as mudanças ocorridas na vida dela um ano após completar o curso de cabeleireiro oferecido pela Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, da cidade de Imperatriz, região metropolitana do Maranhão. Vítima de frequentes agressões por parte do companheiro, Daniela percebeu que a dependência econômica era um dos principais empecilhos para se desvincular completamente de seu algoz.

Infelizmente, a situação de Daniela é a mesma de muitas outras mulheres brasileiras. São mães de filhos ainda pequenos, com baixa escolaridade e nenhuma formação profissional. Consciente desse problema de cunho social, a Vara Especializada de Imperatriz criou, há cinco anos, o Projeto Justiça Social Além dos Limites Processuais. A juíza Sara Gama, titular dessa unidade judicial, explicou que a iniciativa tem por objetivo proporcionar qualificação técnica às vítimas de violência doméstica e familiar.

O projeto é um exemplo de muitos outros desenvolvidos pelo Poder Judiciário dos estados para tornar reais as medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006 – a Lei Maria da Penha, que completa sete anos nesta quarta-feira (7/8). Em comemoração, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promove a VII Jornada da Lei Maria da Penha, em sua sede, em Brasília/DF. O objetivo é debater o melhor alcance da norma. A juíza da Vara Especializada de Imperatriz e representantes de outras unidades judiciais do Brasil relatarão no evento as boas práticas que vêm empregando para conferir maior efetividade ao marco legal.

Sara contou que o Justiça Social Além dos Limites Processuais foi criado após levantamento realizado pela vara sobre o perfil das vítimas. Foram analisados quase 500 processos. “Verificamos um número considerável de mulheres de baixa renda, que são dependentes economicamente de seus companheiros. Essa é uma das razões pelas quais muitas ainda permanecem na relação. Chegamos então à conclusão sobre a necessidade de auxiliarmos essas mulheres fora da ação judicial. Não bastava mais apenas proferirmos uma sentença para obrigar o companheiro a sair de casa. O problema social continuava sem solução, pois a lide entre o casal continuava a ser alimentada pelo desnível econômico da mulher”, explicou a juíza. 

O projeto é desenvolvido com o apoio de 40 parceiros, responsáveis por oferecer qualificações em áreas como a de cabeleireiro, estética, informática, técnico em segurança do trabalho, técnico em enfermagem e vigilância. O atendimento, entretanto, vai além da capacitação. “Nossas parcerias são diversas. Temos desde empresários que colaboram com o transporte das mulheres para os cursos a médicos que ajudam prestando atendimento às vítimas e aos seus filhos. Também distribuímos cestas básicas”, contou a magistrada.

De janeiro do ano passado a julho último, 160 mulheres foram atendidas. Quarenta e nove concluíram ou ainda estão realizando cursos de capacitação. Quatro familiares de vítimas também foram incluídos no programa, a fim de obter formação profissional e assim ajudar no sustento da família. Recentemente o Ministério Público apoiou o projeto com a distribuição de 10 kits de trabalho para as recém-formadas no curso de cabeleireiro. “Os kits tinham escovas, secador e chapinha de cabelo, justamente para que elas pudessem trabalhar em casa. O equipamento foi adquirido por um empresário em decorrência de um termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público do Trabalho”, disse a juíza Sara.

Daniela, citada no início da matéria, elogia a iniciativa. Ela se separou após sofrer agressões do companheiro, com quem vivia há quatro anos. Sem qualificação profissional e com uma filha ainda pequena, a maranhense teve dificuldades para refazer a vida. “Fiz a ocorrência outra vez, mas acabei voltando. Voltei principalmente por causa da criança, que hoje tem seis anos. Na época, não podia trabalhar”, relatou.

As perspectivas de Daniela começaram a mudar diante da oportunidade de se profissionalizar. Ela concluiu o curso de cabelereiro em julho do ano passado. “Primeiro fiz um curso de confecção de sandálias. Passaram-se uns dias e então surgiu a oportunidade de fazer outro curso. Escolhi então o de cabeleireiro. Foram cinco meses. E quando terminei, montei meu próprio salão, ao lado da minha casa. Hoje tenho minha clientela, meu dinheiro. Não ganho muito, mas consigo sobreviver. E isso foi uma renovação para mim. Um novo mundo se abriu. E ainda continuo com tempo para cuidar da minha menina”, disse a maranhense, emocionada.

 

Serviço:

VII Jornada da Lei Maria da Penha

Data: 7 de agosto

Local : Plenário do Conselho Nacional de Justiça

Horário: 9h30 às 19 horas

Giselle Souza
Agência CNJ de Notícias

 

Notícias

Juiz reverte penhora de imóvel para proteger moradia de família

BEM INDIVISÍVEL Juiz reverte penhora de imóvel para proteger moradia de família 7 de abril de 2023, 10h45 A irmã requereu a anulação da penhora. O juiz Danilo Mansano Barioni aceitou o pedido, por entender que ficou provado que a propriedade é indivisível. Prossiga em Consultor Jurídico

Com base em nova lei, TJ-SP autoriza mudanças de nomes sem motivação

JOÃO E MARIA Com base em nova lei, TJ-SP autoriza mudanças de nomes sem motivação 12 de abril de 2023, 8h49 Por Tábata Viapiana "A pessoa registrada poderá, após ter atingido a maioridade civil, requerer pessoalmente e imotivadamente a alteração de seu prenome, independentemente de decisão...

Revogação da doação por ingratidão não precisa ser fundamentada

Revogação da doação por ingratidão não precisa ser fundamentada Karina Nunes Fritz terça-feira, 11 de abril de 2023 Atualizado às 07:37 Recentemente, a Corte infraconstitucional alemã, Bundesgerichtshof (BGH), proferiu interessante decisão acerca do direito do doador de revogar a doação em...

IPTU do período entre leilão e imissão na posse deve ser pago pelo arrematante

VALE O ESCRITO IPTU do período entre leilão e imissão na posse deve ser pago pelo arrematante 6 de abril de 2023, 14h14 Por Danilo Vital O edital do leilão trazia a previsão de que os valores de IPTU posteriores à arrematação seriam de responsabilidade do arrematante. Este, por sua vez, entende que...