Veto parcial a projeto dos 'royalties' mantém regras dos contratos em vigor

30/11/2012 - 18h55 Especial - Atualizado em 30/11/2012 - 20h08

Veto parcial a projeto dos 'royalties' mantém regras dos contratos em vigor

Anderson Vieira e Silvia Gomide

A presidente Dilma Rousseff vetou parcialmente o projeto de lei que modifica a distribuição dos royalties da exploração do petróleo (PL 2.565/2011). Ela retirou do texto a parte relativa à repartição dos campos já explorados a fim de garantir a segurança jurídica de contratos firmados. O respeito aos  contratos em vigor  era uma das principais reivindicações de Rio de Janeiro e Espírito Santo, dois dos maiores produtores de óleo e gás natural do país.

No Twitter, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) expressou seu contentamento por meio de uma mensagem curta: "Valeu Dilma. Esse veto era necessário. Não podemos ser um país de vale tudo." Na mesma rede social, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), autor do texto que acabou aprovado na Câmara dos Deputados, havia se antecipado à decisão de Dilma: "caso a presidenta Dilma vete o Projeto,o Congresso Nacional terá que cumprir com a sua obrigação de derrubar o veto o mais rápido possível".

O veto foi aplicado sobre o artigo 3º, de acordo com informe da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Uma medida provisória preencherá o vazio jurídico deixado pela supressão, e ainda estabelecerá a destinação de 100% dos royalties dos novos contratos para a Educação, tanto pela União, quanto pelos estados e municípios. Além disso, 50% dos rendimentos do Fundo Social do Pré-sal serão aplicados no ensino.

Segundo a EBC, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que a medida provisória a ser encaminhada para publicação no Diário Oficial da União na segunda-feira (3) tem como premissas o respeito à Constituição e aos contratos estabelecidos, a garantia da distribuição das riquezas do petróleo e o fortalecimento da educação brasileira.

Conforme Gleisi, a presidente procurou conservar a maior parte do que foi deliberado no Congresso Nacional. “O veto ao Artigo 3º resguarda exatamente os contratos em exercícios e redistribuição dos royalties ao longo do tempo”, disse durante entrevista coletiva, da qual participaram também a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti; o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Para este último, a decisão da presidente Dilma tem um “grande significado histórico”. “Todos os royalties, a partir das futuras concessões, irão para a educação. Isso envolve todas as prefeituras do Brasil, os estados e a União, porque só a educação vai fazer o Brasil ser uma nação efetivamente desenvolvida”, disse. Ele lembrou que o petróleo é recurso finito, de maneira que seria arriscado o país adotar um modelo de "economia parasitária", ou seja alimentada por uma única fonte de recursos.

Escadinha

O projeto aprovado pelo Congresso Nacional prevê que o repasse aos estados produtores caia de 26,25% para 20% já em 2013. Os municípios que produzem petróleo e hoje ficam com 26,25% passariam a receber 15% no ano que vem. Já a parte dos estados não produtores saltaria de 7% para 21%; e a dos municípios não produtores, de 1,75% para 21%.

Com isso, Rio de Janeiro e Espírito Santo, os dois maiores produtores nacionais perderiam dinheiro. O governo do Estado do Rio, por exemplo, estimava perder, em 2013, cerca de R$ 3,4 bilhões com a nova lei, valor que chegaria a R$ 77 bilhões até 2020. Já o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande vinha dizendo que seu Estado deixaria de ganhar R$ 10,5 bi até 2020 (ver quadro).

O veto ainda pode ser derrubado pelo Legislativo. Nesse caso, conforme a Constituição, o mesmo deve ser apreciado em sessão conjunta pelo Congresso Nacional, só podendo ser rejeitado pelo voto secreto da maioria absoluta dos deputados federais e senadores.

Tramitação polêmica

Em 2009, após a descoberta de petróleo na camada pré-sal, o ex-presidente Lula enviou ao Congresso Nacional uma proposta estabelecendo regras sobre exploração e produção de óleo e gás natural e criando estatal Petro-Sal para administrar as operações. Na ocasião, o presidente chegou a defender que os recursos dos royalties fossem empregados em benefícios de todos os brasileiros, sobretudo com investimento em educação.

Durante a tramitação na Câmara, projeto sobre o pré-sal recebeu a chamada Emenda Ibsen, que estabeleceu a novos critérios de repartição de royalties entre todos os estados e municípios, tirando recursos dos estados produtores, como Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Em dezembro de 2010, a emenda (transformada no artigo 64 do projeto) foi vetada pelo presidente Lula, que enviou à Câmara nova proposta de distribuição. Por quase dois anos, a proposição foi muito discutida nas duas casas e foi finalmente aprovada no último dia 6 de novembro pela Câmara dos Deputados, com 296 votos a favor e 124 contrários, e remetida à sanção presidencial.

 

Agência Senado

 

Notícias

Câmara derruba taxação de transmissão por herança de previdência privada

Derrota dos estados Câmara derruba taxação de transmissão por herança de previdência privada 30 de outubro de 2024, 21h22 A rejeição do Congresso Nacional em dispor no texto da lei sobre a incidência do ITCMD nos planos de VGBL é um bom indicativo de que a pretensão dos estados não deve ser...

Consequências da venda de lote desprovido de registro

Opinião Consequências da venda de lote desprovido de registro Gleydson K. L. Oliveira 28 de outubro de 2024, 9h24 Neste contexto, o Superior Tribunal de Justiça tem posição pacífica de que o contrato de compromisso de compra e venda de imóvel loteado sem o devido registro do loteamento é nulo de...