Debatedores criticam texto do novo Código Penal

21/08/2012 - 19h23 Comissões - Código Penal - Atualizado em 21/08/2012 - 19h45

Debatedores criticam texto do novo Código Penal e pedem mais tempo para análise

Tércio Ribas Torres

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) constituiu uma comissão de juristas e precisará de pelo menos 60 dias para analisar o texto do novo Código Penal que tramita do Senado. A informação foi prestada pelo presidente da OAB, Ophir Cavalcante Junior, durante audiência pública realizada pela comissão especial que analisa a reforma do Código Penal (PLS 236/2012), na tarde desta terça-feira (21). “O debate sobre o novo Código Penal exige tempo e cautela”, disse ele, que debateu com o presidente do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), Fernando Fragoso, e com Taís Schilling Ferraz, integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Ophir Cavalcante reconheceu que o atual Código Penal precisa ser alterado, já que foi elaborado na década de 1940 e já recebeu vários acréscimos. Ele disse, no entanto, que a OAB ainda não teve a oportunidade de fazer uma análise aprofundada da proposta e pediu mais prazo para os debates. Ophir Cavalcante pediu pelo menos dois meses para que a análise seja madura e profunda.

- Este é um Código que mexe com a vida das pessoas e lida com o bem maior do ser humano: a liberdade – ressaltou.

O presidente da OAB disse ser preciso cuidado com a elaboração de uma legislação com base no clamor popular. Ele assinalou que o cidadão brasileiro não tolera mais a impunidade e tantos outros desmandos. Apesar disso, obervou, não deve haver precipitação no novo Código. Ophir Cavalcante afirmou que questões como maus-tratos a animais, crimes ambientais e bullying precisam de uma reflexão do ponto de vista sociológico. Para o presidente da OAB, a prática do bullying, por exemplo, deve ter um tratamento mais educativo e menos penal.

Desproporcionalidade

O presidente da OAB ainda pediu atenção para o que chamou de desproporcionalidade das penas, lembrando que o texto do novo Código Penal prevê uma pena de dois a quatro anos de prisão para quem modificar ninho de espécies silvestres. Quem comprar algumas espécies pode ser condenado a até seis anos de cadeia. No entanto, o crime de abandono de incapaz tem pena de um a quatro anos. Ophir Cavalcante disse que esses são exemplos de penas desproporcionais.

Ele também citou o crime de gestão fraudulenta, que dá base ao processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele lembrou que o atual Código Penal prevê pena de três a 12 anos, enquanto, no novo Código Penal, a pena é de apenas um a cinco anos de cadeia.

- Alguém pode ser condenado no processo do STF e, com o novo Código, cumprir uma pena menor – alertou.

Ophir Cavalcante ainda criticou a tipificação do racismo, que “não tem pena afixada”, e a do terrorismo, definido como uma ação que “causa terror”, que seria muito ampla. Segundo o presidente da OAB, são questões que merecem uma reflexão maior.

- Hoje, a OAB não tem uma posição fechada sobre o texto, mas tem preocupações – afirmou.

Mais prazo

Para o senador Jorge Viana (PT-AC), é preciso atenção com o tamanho das penas. Ele também pediu o fim da impunidade e disse que será preciso “mais tempo do que estamos pensando” para o debate sobre o novo Código Penal. Segundo o senador, as vítimas – e não apenas os criminosos – precisam da atenção do poder público.

A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) também pediu uma reflexão sobre um prazo maior para o debate da matéria e disse que apenas o aumento das penas “não resolve” os problemas da sociedade brasileira. O senador Magno Malta (PR-ES) também engrossou o coro por mais tempo para os debates. Ele disse que a comissão especial – que é presidida pelo senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) e tem como relator o senador Pedro Taques (PDT-MT) – precisa ser responsável para com a sociedade. Magno Malta lembrou que a CPI da Pedofilia demorou três anos para concluir os trabalhos.

Eunício Oliveira, por sua vez, disse que haverá uma reunião interna para tratar da questão do prazo e o relator, Pedro Taques, sinalizou que os trabalhos poderão ser prorrogados. O prazo para o encerramento dos trabalhos da comissão especial é o dia 4 de outubro.

Cadeia

O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Fernando Fragoso, também pediu que a análise do novo Código Penal seja feita de forma não apressada. Fragoso lembrou que o debate sobre temas polêmicos, como a ampliação das possibilidades do aborto legal, será importante para a sociedade brasileira.

Ele criticou a possibilidade de incriminação da pessoa jurídica, e pediu uma reflexão sobre o aumento das penas, que poderiam chegar a 40 anos no prazo máximo.

- Com o crescimento das penas e com o aumento do rigor para a progressão da pena, não haverá cadeia para todo mundo – criticou Fragoso.

Taís Schilling Ferraz, integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), disse que o órgão também não esgotou o debate sobre o texto do novo Código Penal. Taís Ferraz afirmou que a elaboração do novo texto legal é um grande desafio, que exige tempo e dedicação. Ela criticou a diminuição das penas de alguns crimes e prometeu encaminhar à comissão especial sugestões sobre crimes contra crianças e mulheres.

Para a representante do CNMP, o atual sistema carcerário não responde aos anseios da sociedade brasileira. Ela afirmou que mais importante do que o tamanho da pena é a certeza da punição, e lamentou a quantidade de homicídios registrados no país. Ela lembrou que o Brasil lidera o ranking mundial de homicídios absolutos e está em 7º lugar no ranking de homicídios de mulheres.

- Nos crimes contra a vida, a questão não é tanto o aumento da pena, mas fazer o sistema funcionar – afirmou.

 

Agência Senado

 

Notícias

Entenda PEC que quer o fim da escala de trabalho de 6x1

Trabalho Entenda PEC que quer o fim da escala de trabalho de 6x1 Texto foi proposto pela deputada Erika Hilton e depende do apoio de 171 parlamentares para ser analisada no Congresso. Da Redação segunda-feira, 11 de novembro de 2024 Atualizado às 12:07 Uma PEC - proposta de emenda à constituição...

Artigo - ITCMD e doações com elementos no exterior: tema superado?

Artigo - ITCMD e doações com elementos no exterior: tema superado? A incidência do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) em heranças e doações que envolvam doadores e bens de propriedade de de cujus no exterior tem sido objeto de intensos debates no Brasil. Em 2021, em sede do...

Penhora de bem alienado fiduciariamente por dívidas propter rem

Penhora de bem alienado fiduciariamente por dívidas propter rem Flávia Vidigal e Priscylla Castelar de Novaes de Chiara O STJ mudou seu entendimento sobre a penhorabilidade de imóveis alienados fiduciariamente em execuções de despesas condominiais, reconhecendo a possibilidade de penhorar o bem,...

Ministro do STJ exclui área ambiental do cálculo de pequena propriedade rural

Impenhorabilidade Ministro do STJ exclui área ambiental do cálculo de pequena propriedade rural STJ decidiu que, para impenhorabilidade, apenas a área produtiva de pequenas propriedades rurais deve ser considerada, excluindo-se a área de preservação ambiental. Decisão baseou-se em assegurar que...

Tribunal nega registro civil tardio de casamento de bisavós

Tribunal nega registro civil tardio de casamento de bisavós 20/07/2021 Prova de existência de filhos não é suficiente. A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve decisão do juiz Seung Chul Kim, da 1ª Vara Cível de Cotia, que negou pedido de registro tardio de...