“Juiz do cemitério”

Uma fortuna encalhada na Justiça

(14.11.11)

Cabe aos magistrados cuidarem de apreensões feitas em operações policiais até que o processo do crime em questão seja encerrado. O patrimônio sob tutela do Judiciário vai de alimentos a aeronaves e tem também galos de rinha - e chega a R$ 2,3 bilhões.

Os R$ 180 mil, os cinco celulares e o Toyota Corolla apreendidos com Nem, chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, preso na semana passada no Rio de Janeiro, somaram-se a uma montanha de bens do crime bloqueados pela Justiça. Como estão hoje, espalhados por depósitos pelos quatro cantos do país, podem parecer um desafio menor de gestão.

Mas imagine 68 aeronaves, 1.346 embarcações, 4.103.150 computadores, 108.589 animais, 32.319 pedras preciosas, 2.628.073 equipamentos eletrônicos, entre milhares de outros objetos, todos juntos, lado a lado.

Os 35.973 carros - que cobririam o percurso Brasília-Anápolis se enfileirados, considerando um comprimento médio de 4m por veículo -  dão uma boa ideia da dimensão do problema que se tornou administrar os objetos bloqueados de criminosos. O patrimônio, que hoje soma R$ 2,3 bilhões, valor recorde no Brasil, mofa dentro de almoxarifados ou pátios de delegacias. A conta não tardará a chegar, preveem especialistas. As informações são do jornal Correio Braziliense, em sua edição de ontem (13). O texto é da jornalista Renata Mariz.

“O prejuízo é certo. Se o réu for condenado, ao fim do processo, o bem já estará tão depreciado que não valerá mais nada, ou seja, não retornará à sociedade como deveria. Mas pior ainda é se o acusado for absolvido, porque a União terá de devolver o objeto apreendido em perfeitas condições ou o valor monetário corrigido”, explica o juiz Júlio César Ferreira, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que administra um cadastro nacional com os bens de criminosos bloqueados.

Ele destaca um apego excessivo à literalidade do Código de Processo Penal, que não admite a alienação antecipada de bens bloqueados até que o processo termine definitivamente, como um dos maiores entraves do problema. “Por isso, o CNJ conscientiza os juízes de que eles podem fazer a venda, desde que depositem o dinheiro em juízo”, diz.

Um projeto de lei aprovado, no mês passado, pela Câmara dos Deputados sobre lavagem de dinheiro facilita a alienação antecipada dos bens de criminosos, estendendo o tratamento já previsto em norma específica para traficantes de drogas. Mas, como houve alterações, a proposta voltará ao Senado.

Enquanto isso, o índice do patrimônio que já foi alvo da venda anterior ao fim do processo não chega a 0,25% do total apreendido pela Justiça. Em valores monetários, só R$ 5,3 milhões foram alienados antecipadamente. Pouco mais de R$ 43 milhões (1,85%) acabaram repassados em favor da União e dos Estados, R$ 103 milhões (4,43%) voltaram para os donos e R$ 3,4 milhões tiveram como fim a destruição - principalmente armas e produtos piratas. O maior volume, entretanto, continua sem destinação: 93,3%, ou R$ 2,1 bilhões.

Parte desse patrimônio parado, segundo o juiz federal Jorge Gustavo Serra de Macedo, é de difícil venda ou mesmo repasse a órgãos públicos para utilização. A dificuldade na apreensão de determinados bens já rendeu a Macedo a alcunha de “juiz do cemitério”. Em 2004, durante uma investigação de lavagem de dinheiro, ele teve de apreender uma empresa que administrava o cemitério de Governador Valadares e, por um tempo, não teve outra saída. Restou cuidar dos negócios até nomear uma pessoa da própria cidade, um líder comunitário, que gerenciasse os enterros.

Foto/Fonte: www.espacovital.com.br

Notícias

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato A primeira atualização da Lei do Inquilinato (8.245/91) acabou de completar um ano com grande saldo positivo, evidenciado principalmente pela notável queda nas ações judiciais por falta de pagamento do aluguel. (Outro efeito esperado era a redução...

Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente

24/02/2011 - 08h08 DECISÃO Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente É indevida a indenização decorrente do seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, o DPVAT, se o acidente ocorreu sem o envolvimento direto do veículo. A decisão é da...

Função delegada

  Vistoria veicular por entidade privada não é ilegal Por Paulo Euclides Marques   A vistoria de veículos terrestres é atividade regulada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), em atendimento ao disposto nos artigos 22, inciso III, e artigos 130 e 131 do Código de Trânsito...

Compreensão do processo

  Relações de trabalho exigem cuidado com contrato Por Rafael Cenamo Juqueira     O mercado de trabalho passou por determinadas alterações conceituais nos últimos anos, as quais exigiram do trabalhador uma grande mudança de pensamento e comportamento, notadamente quanto ao modo de...

Portal da Transparência

CNJ lança Portal da Transparência do Judiciário na internet Quinta, 20 de Janeiro de 2011     Informações sobre receitas e despesas do Poder Judiciário federal estão disponíveis no Portal da Transparência da Justiça (https://www.portaltransparencia.jus.br/despesas/), criado pelo Conselho...

Dentista reclama direito a aposentadoria especial

Quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 Cirurgião dentista que atua no serviço público de MG reclama direito a aposentadoria especial Chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) Reclamação (Rcl 11156) proposta pelo cirurgião dentista Evandro Brasil que solicita o direito de obter sua aposentadoria...