Reforma do Ensino Médio: os problemas atuais - Bloco 1

07/11/2016 00h01

Reforma do Ensino Médio: os problemas atuais - Bloco 1

A medida provisória que reforma o ensino médio no Brasil, em discussão no Congresso Nacional, virou assunto nas escolas e nas famílias. Este é o tema da reportagem especial desta semana, dividida em 4 partes: os problemas do ensino médio; as propostas para resolvê-los; do que a medida provisória trata; e os desafios da reforma na prática.

 
 

Para começar, alguns números. Você sabia que de cada 100 jovens de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio, quase 40 não estão? Destes, cerca de 10 estão atrasados, ainda presos no ensino fundamental. Os outros 30 não estão na escola – desistiram ou sequer se matricularam. Menos de um terço afirma que precisa trabalhar. Também menos de um terço alega motivos como dificuldade de acesso à escola. Mas a maioria admite que não tem interesse – a chamada geração nem-nem, que nem trabalha nem estuda. A questão chave aqui é como atrair os estudantes para o ensino médio.

O presidente da Comissão especial da Reforma do Ensino Médio, deputado Reginaldo Lopes, do PT de Minas Gerais, critica o atual modelo.

Reginaldo Lopes: “Ele prioriza um modelo que fala de tudo e ensina quase nada. Ele prioriza um modelo de decoreba, de memorização... O Enem, que é o passaporte para o jovem entrar para a universidade, ele prioriza mais a interpretação.”

O secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Rossieli Silva, chama a atenção para a falta de conexão entre o jovem e a escola.

Rossieli Silva: “Se o jovem olha para esse ensino médio e não consegue ter a perspectiva de alguma coisa na sua vida, ele abandona a escola sim, porque não se conecta com ele, não se conecta com a realidade dele.”

Mas se atrair os jovens para a escola já é difícil, o resultado do ensino parece ser um problema ainda maior. Um quarto dos alunos que ficaram na escola tem resultados tão ruins que o nível de aprendizado é considerado ZERO, ou seja, não chegam ao mínimo necessário em português e matemática. A questão chave, agora, é qualidade.

Para a secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, outro desafio do ensino médio é a sua utilidade.

Maria Helena Guimarães de Castro: “O ensino médio se tornou um cursinho preparatório para o Enem. Quem tem mais dinheiro para pagar cursinho, passa no Enem. Os que não têm, mesmo com regime de cotas e tudo o mais, acabam nem concorrendo ao Enem, porque acham que não vão passar.”

Muitos críticos do atual formato argumentam que apesar de ser desenhado para preparar o jovem para a universidade, apenas 1 de cada 6 estudantes chegam lá. E o ensino técnico alcança menos de um décimo dos alunos. O resultado disso é que 3 em cada 4 jovens não aprende uma profissão na escola ou universidade.

Para o diretor-Geral do SENAI, Rafael Lucchesi, a educação profissional poderia caminhar paralela à educação regular.

Rafael Lucchesi: “No Brasil, 17% dos jovens vão para a universidade, mas 83% não vão. Seria mais inclusivo se pensar um sistema educacional que permitisse trilhas voltadas para isso. É assim que funciona nos países desenvolvidos e nos países emergentes, que têm obtido melhores resultados na educação. (...) Mais de 50% dos jovens de 15 a 17 anos dos países pertencentes à OCDE, que reúne os 30 países mais ricos, fazem a educação profissional junto com a educação regular. Na Áustria são 77%, na Finlândia são 70%, no Japão são 70%, na Alemanha 52%. São exemplos de excelência educacional e países que têm 3 a 4 vezes mais estudantes no ensino superior. Não há uma oposição entre a continuidade dos estudos para o ensino superior.”

E os alunos, o que pensam da ideia de escolher sua trajetória no ensino médio?

A Rádio Câmara conversou com alunos do primeiro ano. E a maioria gostou.

Estudante 1: “Essa nova proposta eu acho bem interessante, pelo fato que a gente vai poder se empenhar mais no que a gente gosta. E se a gente se empenha em algo que a gente gosta, a gente se empenha em fazer mais bem feito, é mais divertido”

Estudante 2: “A vantagem é que a pessoa vai vir com mais vontade de estudar, porque ela vai estar fazendo uma coisa que ela gosta

Mas tem coisas que a mudança da estrutura curricular não vai resolver: recursos físicos e humanos ainda são um enorme problema, segundo o Tribunal de Contas da União. De acordo com a auditoria do TCU, faltam mais de 30 mil professores na rede pública, onde estão 85% dos alunos do ensino médio. A maioria, professores de física, química, matemática e filosofia. Sobre infraestrutura, até o diagnóstico é difícil, porque menos de ¼ das escolas têm dados consolidados.

Mas professores e alunos, como Samuel Carvalho do Nascimento, conhecem bem as deficiências.

Samuel Carvalho do Nascimento: “A escola está faltando muita estrutura, assim, para o aluno ter um lazer, ter um ambiente que ele possa se adequar, que ele possa se interessar mais pelas aulas, se interessar mais pela escola.”

Nelson Borges, diretor de escola em Ceilândia, reclama do atraso nas verbas.

Nelson Borges: “Às vezes, as verbas chegam atrasadas, muitas vezes a gente tem que tirar dinheiro do nosso bolso para poder organizar a escola.”

Num ponto, governo e oposição concordam: o ensino médio não vai bem. Mas o que fazer para mudar? Aí começam as divergências.

No próximo capítulo, confira as propostas discutidas nos últimos anos para resolver os problemas do ensino médio.

Reportagem – Lincoln Macário
Edição – Mauro Ceccherini
Produção – Lara Haje
Trabalhos Técnicos – Marinho Magalhães
Origem da Foto/Fonte: Agência Câmara Notícias
 

 

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