STJ – Despesas condominiais inadimplidas pelo locatário pode levar o imóvel à penhora
STJ – Despesas condominiais inadimplidas pelo locatário pode levar o imóvel à penhora mesmo que o proprietário não tenha participado da ação de cobrança
Jair Rabelo, Advogado Publicado por Jair Rabelo anteontem
Fonte: blog DIREITO das COISAS.
REsp nº 1.829.663 – SP
Por meio do recurso em comento, o STJ se propôs a definir se a proprietária do imóvel gerador dos débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado no bojo de ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo passivo, uma vez que ajuizada contra a locatária do imóvel, e não contra a proprietária.
Segundo o reiterado entendimento do STJ, a obrigação de pagamento das despesas condominiais é de natureza propter rem, ou seja, é obrigação “própria da coisa”, ou, melhor ainda, assumida “por causa da coisa”.
Por isso é que, em havendo transferência da titularidade, a obrigação é igualmente transmitida.
Diz-se, então, que a obrigação propter rem é dotada de ambulatoriedade, ou, ainda, que se trata, ela mesma, de obrigação ambulatória. Assim, independentemente da vontade dos envolvidos, a obrigação de satisfazer determinadas prestações acompanha a coisa em todas as suas mutações subjetivas.
Discute-se se tal obrigação encerra-se na pessoa que é proprietária do bem ou se ela se estende a outras pessoas que tenham uma relação jurídica vinculada ao imóvel – que não o vínculo de propriedade.
Em julgamento de recurso repetitivo, a 2ª Seção desta Corte firmou a tese de que “o que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso concreto” (REsp 1.345.331/RS, 2ª Seção, DJe 20/04/2015).
Na oportunidade, ressaltou o Ministro Luis Felipe Salomão, relator dos autos, que as despesas condominiais, compreendidas como obrigações propter rem, são de responsabilidade daquele que detém a qualidade de proprietário da unidade imobiliária, ou ainda pelo titular de um dos aspectos da propriedade, tais como a posse, o gozo, a fruição, desde que esse tenha estabelecido relação jurídica direta com o condomínio.
A Ministra Relatora, no recurso em comento, ressaltou que, especificamente no que concerne ao ajuizamento da ação de cobrança de cotas condominiais, tem-se que o interesse prevalecente é o da coletividade de receber os recursos para o pagamento de despesas indispensáveis e inadiáveis, podendo o credor escolher o que mais prontamente poderá cumprir com a obrigação, ficando obviamente ressalvado o direito de regresso (CHAVES DE FARIAS, Cristiano. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. Vol. 5. 9ª ed. rev., ampl. e atual. Ed. Juspodivm: Bahia, 2013, p. 734).
O STJ concluiu que a ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta em face de qualquer um daqueles que tenha uma relação jurídica vinculada ao imóvel, o que mais prontamente possa cumprir com a obrigação.
A Ministra Relatora ressaltou, também, que a admissão da arrendatária no polo passivo da ação de cobrança, não implicaria no reconhecimento de solidariedade entre proprietário e arrendatário no pagamento dos débitos condominiais em atraso, mas apenas no reconhecimento de que ambos poderiam figurar no polo passivo da obrigação, a fim de fazer prevalecer o interesse da coletividade dos condôminos, sempre resguardado o direito de regresso contra o real proprietário do bem.
Reitera-se que, na hipótese ora sob exame, a ação de cobrança de cotas condominiais não foi ajuizada em face da proprietária do imóvel (recorrida), mas sim, em face da locatária.
Foram opostos embargos de terceiro pela proprietária em razão da penhora de seu imóvel, realizada no bojo de ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não foi parte.
O TJ/SP reconheceu a impossibilidade da penhora do referido imóvel, sob o argumento de que é inviável redirecionar a execução à pessoa que não figurou na relação jurídica originária, em respeito aos limites subjetivos da coisa julgada.
A Ministra Relatora destacou que a regra dos efeitos da coisa julgada apenas se operarem inter partes, não beneficiando nem prejudicando estranhos à relação processual em que se formou, não é absoluta.
Partindo da premissa de que o próprio imóvel gerador das despesas constitui garantia ao pagamento da dívida, dada a natureza propter rem da obrigação, o STJ entendeu que se deve admitir a inclusão do proprietário no cumprimento de sentença em curso. Afinal, se o débito condominial possui caráter ambulatório, não faz sentido impedir que, no âmbito processual, o proprietário possa figurar no polo passivo do cumprimento de sentença.
Leia na íntegra a decisão do STJ clicando no link ao final deste post no blog DIREITO das COISAS.
Jair Rabelo, Advogado
Fonte: Jusbrasil